A glamorização da profissão em uma extensa programação que populariza o mundo culinário atrai cada vez mais gente interessada em trocar o escritório pela cozinha
Patrícia Abbondanza (na foto de abertura), 32 anos, completa em outubro oito anos à frente da Dedo de Moça, uma escola de gastronomia online.
Formada em jornalismo e gastronomia, Patrícia queria aproveitar os dez anos de experiência no mercado de alimentação para abrir seu próprio negócio.
Sem saber em que modelo de negócio apostar, ela optou pelo básico: ensinar a cozinhar em casa, a partir de um blog com receitas práticas. O número de comentários e acessos à plataforma refletia o bom momento da gastronomia no Brasil.
Anteriormente, um privilégio da tevê por assinatura, os atuais programas de culinária nos canais de televisão aberta colocam o tema em voga, e apresentam a profissão sob um novo olhar, de acordo com Patrícia.
“Os jurados desses programas tornam-se celebridades e formam opinião.” “Antigamente, a culinária tinha outro perfil, e aparecia em programas como os da Palmirinha, e Ana Maria Braga, associados a receita, e não diretamente à profissão".
Com o impacto dessa programação, Patrícia observou um nicho de mercado cada vez mais frequente – um público que queria redescobrir o prazer de cozinhar, comer bem e ter acesso a um conteúdo customizado.
Foi então, que ela lançou a opção de personal chef, em que ela desenvolve um curso personalizado, e o prepara (e ensina) na casa do cliente.
O serviço já lhe rendeu mais de mil clientes, custa a partir de R$ 600, e tem duração de três horas. As aulas podem abordar desde um simples jantar, até a cozinha asiática, e está disponível também no formato de vale-presente.
Com o tempo, o desejo de atender outras regiões e oferecer possibilidades mais acessíveis falou mais alto. Patrícia optou por transformar o presencial na plataforma digital, em vídeos com aulas que duram de um minuto e meio a seis minutos. E gratuitas – monetizadas por patrocínio e publicidade.
GASTRONOMIA NO BRASIL
Sem a tradição de outros países, como a França, o Brasil corre contra o tempo para ganhar espaço na competição internacional. Os cursos de cozinheiro e confeiteiro oferecidos pelo Senac desde 1964 tinham como objetivo formar mão-de-obra qualificada, de acordo com Gisela Redoschi, coordenadora da área de gastronomia do Senac São Paulo. “Não formávamos profissionais com grandes pretensões”.
Em 1995, esse cenário começou a mudar. Em parceria com uma escola americana, o Senac criou o curso de cozinheiro chefe internacional com 12 vagas, em Águas de São Pedro, a 192 quilômetros da capital, e em 1996, em Campos de Jordão, a 167 quilômetros de São Paulo.
Em 2001, as duas unidades receberam também as grades de tecnólogo em gastronomia, com duração de dois anos, e que garante diploma universitário – modalidade que chegou a São Paulo somente em 2004, na unidade de Santo Amaro.
Hoje, 152 cursos são oferecidos na área, em 19 campi, e além da cozinha, surgiram temas complementares, como bebidas e nutrição. “Mesmo assim, confeitaria e panificação se destacam pela enorme demanda, e alto nível de empregabilidade”, diz.
Ainda neste ano, outras duas cozinhas serão inauguradas. Uma em Sorocaba, a 85 quilômetros de São Paulo, onde há uma demanda muito reprimida, e outra, em São Miguel Paulista, na zona leste.
Além de aquecer o mercado, Gisela aponta que esses programas são importantes para passar conceitos reais da profissão, e mostrar os variados ramos de atuação possíveis na gastronomia, que se mostrava muito restrita.
“Nos últimos dois anos, dobramos o número de alunos. Acompanhamos as tendências do mercado, para formar profissionais para atuar em modalidades diferentes”, afirma.
Embora comemore os bons resultados, Gisela deixa claro que tamanha exposição também traz problemas à área, e pode confundir a cabeça de muita gente. A decisão de estudar gastronomia se tornou o sonho de muitos espectadores, que iludidos pela glamorização que alguns programas transmitem, muitas vezes abandonam carreiras consolidadas para brincar de ser chef.
Muitas vezes, a troca não é necessariamente um bom negócio. Talento, técnica, disciplina, e muita humildade são ingredientes básicos para quem quer se lançar na carreira.
“É sempre bom lembrar que são 18 horas em pé, dentro de um ambiente muito quente. E para chegar a chef é preciso passar muita coisa”.
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