A sinalização feita pelo presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, de que a taxa Selic, hoje no menor nível histórico (6,5%), pode voltar a subir gradualmente caso haja piora nas expectativas para a inflação, é um dos índicios das incertezas diante do cenário econômico pós-eleições 2018.
Essa dúvida persistente, acompanhada até de um certo temor por parte do empresariado, foram algumas das percepções apresentadas nesta quinta-feira (27/09) na reunião mensal do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), coordenada pelo vice-presidente Edy Kogut.
De modo geral, nesta reunião, mais do que economia, o tema eleições tomou conta do debate por conta da "sensação de encruzilhada", conforme definiram alguns empresários presentes, frente à polarização que domina o processo a poucos dias do primeiro turno. Indicadores macroeconômicos foram apresentados, na tentativa de indicar alguns caminhos a seguir.
Com a economia em marcha lenta, alguns deles se mantêm razoáveis, como as contas do setor público, cujo valor nominal do déficit ficou em 7% em julho -bem melhor que os 10,9% de 2016, mas ainda preocupante devido ao déficit primário.
Outro dado animador é o saldo da balança comercial, com superávit de US$ 3 bilhões em setembro, e a entrada de capital de longo prazo, que representa 3,6% do PIB para financiar um déficit zero -um dos melhores indicadores macroeconômicos, segundo os economistas da ACSP.
Já o IPCA se mantém dentro da meta do BC, em 4,28%, apesar de percalços como a greve dos caminhoneiros. Mas há riscos, conforme apontou Goldfajn, e um deles está diretamente vinculado às eleições, já que pode existir frustração de expectativas sobre a continuidade de reformas importantes, como a da Previdência.
O crédito vem se recuperando lentamente, com alta de 9,1% para pessoa física e queda de 7,4% para a indústria. após o enxugamento da carteira para concessão do BNDES. No total geral, a alta é de 3,4%.
A confiança do consumidor, conforme retrata o Índice Nacional de Confiança, levantamento da ACSP, registrou o melhor resultado desde setembro de 2015, 78 pontos - ainda abaixo da neutralidade (100 pontos), mas bem acima dos 63 pontos já registrados, apesar da recuperação lenta.
Porém, ainda que o nível de confiança tenha melhorado, o consumidor se mantém cauteloso em relação ao futuro.
A despeito dos juros menores e a melhora do crédito, o indicador se mantém no nível de pessimismo: o desemprego ainda continua alto -apesar das mais de 100 mil vagas com registro em carteira captadas pelo Caged de agosto -, e os prazos de financiamento se mantém elevados, provocando arrefecimento das vendas do varejo.
Com isso, a projeção de crescimento do setor em 2018, que era de 3,4%, foi revisada para 3,1%, e os economistas apresentaram uma simulação em que a questão era como as eleições poderiam afetar as vendas do varejo. A conclusão principal é que resultado terá uma relação significativa com o barômetro de confiança do consumidor.
Se agradar o mercado, a confiança do empresário aumentaria, pois haveria uma retomada, maior geração de empregos e a economia começaria a evoluir -o que provocaria uma espécie de choque positivo sobre os consumidores. Ou o contrário, se o resultado for considerado insatisfatório.
"Positivo ou negativo, esse choque terá um efeito muito forte, que será sentido longo de dez meses, pelo menos", disse um economista presente à reunião. E a expectativa pelos próximos capítulos continua.
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