Em maio, a Shopee, gigante do comércio eletrônico chinês, superou a Amazon em número de acessos no Brasil (201 milhões contra 195 milhões), transformando-se na segunda maior plataforma de comércio eletrônico no país, atrás apenas do Mercado Livre (363 milhões).
Mas com a cobrança de 20% de imposto sobre produtos importados até US$ 50, popularmente conhecida como a 'taxa das blusinhas', sancionada pelo presidente Lula no último dia 27 de junho e valendo a partir de 1º de agosto, será que esse quadro pode mudar? Além disso, será que a taxação ajudará a melhorar a competitividade do varejo brasileiro?
Essas dúvidas foram levantadas por empresários na última reunião do Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), realizada nesta semana. A pedido da entidade, os nomes dos participantes não são divulgados.
Os dados acima, citados por um especialista em comércio eletrônico, são da Conversion (consultoria especializada em SEO) e mostram o apreço do consumidor brasileiro pela compra não só das "blusinhas" vendidas nessas plataformas, mas também por itens de menor valor como cabinhos telefônicos, capinhas de celular, camisas de futebol, conforme disse.
Depois da pandemia, houve forte mudança nesse ranking em número de acessos, e as plataformas brasileiras ficaram em desvantagem - especialmente após a crise das Americanas, que ocupava o segundo lugar em acessos, e foi perdendo espaço ao anunciar o problema de fraude contábil que veio à tona em janeiro de 2023, destacou.
Com a separação da Via Varejo, a Casas Bahia já vinha tirando o foco do comércio eletrônico, e o Magazine Luiza vinha andando de lado, até anunciar, nesta semana, parceria com a chinesa Ali Express. Ou seja, as plataformas nacionais ou perderam espaço, ou se aliaram ao "inimigo".
"Agora, o Magalu vai vender todas as 'quinquilharias' com o Ali Express buscando recuperar o faturamento. E quem sai ganhando é o Mercado Livre, marketplace argentino listado na Nasdaq que tem no Brasil mais que o dobro do tráfego da Shopee", afirmou o especialista.
Lembrando do crescimento gigantesco do volume de compras até US$ 50 - 35% ante 2022, segundo levantamento da CNC - após a implantação do Programa Remessa Conforme em 2023, que isentava do imposto de importação as aquisições até esse valor, o especialista explicou que, com a nova medida em vigor (20% mais ICMS), a previsão é que o preço final dos produtos aumente cerca de 50%.
"Isso deve espantar um pouco do consumo através desse canal, atendendo pelo menos em parte o que os empresários brasileiros estavam pleiteando: as mesmas condições competitivas entre compras nacionais e internacionais", reforçou. "Ainda vamos ver o que vai acontecer, mas a taxação deve forçar uma queda nas compras de plataformas estrangeiras."
No geral, as plataformas de e-commerce brasileiras vêm recuperando a participação perdida com a pandemia. Se em 2022 registraram queda de 2,2%, em 2023 cresceram 0,7%. Já no primeiro trimestre de 2024, elas faturaram R$ 44,2 bilhões, alta de 9,7% ante igual período do ano passado, com tíquete médio de R$ 492, destacou o especialista, citando dados da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico).
Em maio, lembrou, o tráfego do e-commerce nacional foi de 201 milhões de visitas, alta de 10,8% ante abril. Junto com o Dia dos Namorados, em junho, apresentou um crescimento importante - tanto que, em 2024, a estimativa é que o faturamento atinja R$ 418,6 bilhões, com 91 milhões de novos compradores virtuais - um número bastante elevado, reforçou.
"Mesmo que os dados macroeconômicos não sejam muito animadores, a elevação do emprego e da renda média são os fatores que têm colaborado para a recuperação das plataformas brasileiras de comércio on-line, que vinham muito ruim nos últimos dois anos", disse, lembrando que a projeção para 2024 é de alta de 10%.
Karina Lignelli/Diário do Comércio Imagem Freepik
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