O empoderamento feminino tem alçado voos altos, inclusive quando se trata de empreendedorismo. Cada vez mais as mulheres criam coragem para começar um negócio e encarar as oscilações de mercado. Prova disso é que elas já são maioria – 51,5% – entre os empresários iniciais do país. Entre os empreendedores já estabelecidos, no entanto, o cenário é bem diferente. Elas ainda estão para atrás – são apenas 42,7% contra 57,3% de homens. Esses dados são do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016.
A mesma situação foi apontada em levantamento recente do Serasa Experian, que demonstrou que 37% das empresas com sócias mulheres está no grupo definido como “No começo”, que concentra empresas com menos de cinco anos, entre microempreendedores individuais (MEIs), microempresas, pequenas e médias empresas. Do total geral de empresas avaliadas pelo levantamento, lideradas tanto por empreendedores homens quanto mulheres, apenas 29,5% estão nesse grupo. É uma diferença também considerável de mais de sete pontos percentuais.
Enfrentando grandes obstáculos
Os dois estudos sugerem que as mulheres brasileiras conseguem criar novos negócios na mesma proporção que os homens, mas enfrentam mais dificuldades para fazer seus empreendimentos chegarem à fase de amadurecimento. “São muitos os desafios que as mulheres encaram para empreender”, afirma Camila Ribeiro, analista de negócios do Sebrae SP e gestora do programa Mulheres Empreendedoras da Zona Sul.
Entre os principais obstáculos que as mulheres relatam estão preconceito de gênero, menor credibilidade pelo fato de o mundo dos negócios ser mais tradicionalmente associado a homens e até maior dificuldade de financiamento. Esse problema, aliás, está longe de ser exclusividade brasileira.
Um estudo do Babson College, dos Estados Unidos, mostrou que, enquanto as mulheres detêm cerca de 40% dos negócios do país, apenas perto de 5% de todos os investimentos de capital e apenas 3% do financiamento de capital de risco vão para empresas chefiadas por elas. Quer mais? O estudo indica que, se as mulheres começassem com o mesmo capital que os homens, poderiam somar 6 milhões de empregos à economia norte-americana em cinco anos – 2 milhões deles apenas no primeiro ano.
Além da dificuldade de conseguir crédito, Camila destaca a dificuldade que a mulher enfrenta para administrar o tempo a fim de conciliar casa, família, maternidade e empresa. Além disso, há o desafio da empreendedora com ela mesma. “É comum encontrar algumas mulheres que não se acham capazes de abrir seu próprio negócio e não desenvolvem suas habilidades”, explica. Ou seja, são barreiras que os empreendedores homens – apenas por uma diferença de gênero – não têm de enfrentar.
No entanto, mesmo diante de tantos desafios e preconceitos, a especialista observa cada vez mais mulheres driblando dificuldades com maestria para empreender e desenvolver o propósito da sua empresa. Foi o que fez Luciane Abramo, que decidiu abrir a Óperah Soluções Empresariais em 2002, quando era gerente de TI de uma grande distribuidora de óleo e gás. “Por ser mulher naquele ambiente masculino, me olhavam como alguém fragilizado, sem muitas expectativas”, conta.
Os primeiros anos não foram fáceis. “Eu mal tinha dinheiro para o combustível, usava o limite do banco, dormia menos de quatro horas para estudar e sentia como era difícil para a mulher impor respeito em um universo masculino”, conta. Hoje, com mais de 15 anos de mercado, sua empresa tem centenas de projetos entregues e é uma integradora de soluções em telecom e tecnologia.
Novos caminhos se abrindo
Casos como o de Luciane devem se tornar mais frequentes. Pelo menos, existe uma indicação de que novos caminhos estejam surgindo. É possível observar essa tendência comparando dados dos últimos relatórios GEM. Se hoje as mulheres representam 42,7% dos empreendedores estabelecidos e ficam 14 pontos percentuais atrás dos homens, em 2007, elas eram representavam apenas 38,4% dos empreendedores estabelecidos – uma diferença de 23 pontos percentuais em relação aos 61,6% de homens nesse patamar.
“Sabemos que ainda há um caminho longo a percorrer em busca da equidade de gêneros e respeito às mulheres e suas atividades, mas estamos ganhando mais lutas do que perdendo”, afirma Camila, do Sebrae SP. Para ela, o importante é que todas continuem construindo modelos reais de sucesso, protagonizando suas histórias e, com isso, empoderando outras mulheres.
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