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Pessoas e empresas precisam de organização e liberdade para inovarem e crescerem, diz Delgado

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Notícias 05 Out, 2016
Garantir um nível democrático do acesso a dados e informações é fundamental para disciplinar o uso do poder, não apenas econômico, mas também político

Paulo Delgado

Diferenças sociais e culturais, semelhanças educacionais e tecnológicas, realidades institucionais estáveis. O que leva uma instituição a funcionar da melhor forma possível? Uns falam de eficiência e persistência. Outros, da elegância e beleza. Ou da justiça e dos relacionamentos. Outros estão concentrados no enriquecimento pessoal ou geração de riqueza. No Oriente, é forte a noção de harmonia. Para todo lado existe uma noção de ordem da qual deriva a ideia da boa organização que atua de forma relevante na vida social e econômica. Do microempreendedor individual à grande corporação multinacional, da família ao governo. E sobre elas, as instituições. São as leis escritas, as boas condutas não escritas, a regra do jogo, o que possibilita ou impede as pessoas e as organizações a se associarem dessa ou daquela maneira. As instituições impulsionam e arbitram o progresso do mundo.

No mundo de hoje, movimentam-se e organizam-se aqueles que construirão o futuro. Mas o presente é ordenado por leis onde é impossível trabalhar sem estabelecer relação com uma instituição qualquer. Já é hora de o Brasil se dar conta de que a ausência de resistência em relação ao que ele representa não é um apreço do mundo por nós. É falta de medo da nossa concorrência, diante do desprezo que dedicamos à inteligência, ao futuro e ao valor das nossas instituições.

Edição recente da revista britânica TheEconomist resumiu as mudanças lembrando que, em 1990, as três maiores montadoras de Detroit tinham uma capitalização de US$ 36 bilhões, empregando 1,2 milhão de pessoas. Passados 25 anos, as três maiores firmas do Vale do Silício chegaram a uma capitalização de mais de US$ 1 trilhão, empregando apenas 137 mil funcionários. O mercado de inovação, para idéias revolucionárias ou disruptivas, está fluindo animadamente. Até o presidente Barack Obama diz querer se tornar, após a Casa Branca, um investidor de risco em companhias criativas. E é na pequena Paio Alto, no Vale do Silício, que está a sede da Tesla Motors, companhia de carros do futuro, sem motorista, que sozinha tem uma capitalização de US$ 30 bilhões, com apenas 15 mil empregados.

Para efeito de comparação, hoje a situação das três grandes de Detroit é a seguinte: A Chrysler se juntou com a italiana Fiat, e o grupo tem US$ 10 bilhões de capitalização; a GM, com US$ 50 bilhões, é a maior do trio; já a mítica Ford, sinônimo de uma era, está com US$ 47 bilhões. Detroit melhorou bastante nos últimos anos com suporte do governo federal, mas permanece talvez a metrópole mais lúgubre dos EUA. Precisa se reinventar, com idéias que a coloquem no futuro, única forma de se livrar do rastro de desolação e ineficiência dos locais que não se reinventam.

Na sua concepção moderna, quem melhor formulou a dinâmica do mundo produtivo foi o austríaco Joseph Schumpeter com sua ideia do capitalismo como um sistema de “destruições criativas", forças que possibilitam e incentivam a inovação permanentemente. E a inteligência empreendedora e inovadora existe pela valorização de gente criativa. São elas que geram o futuro, para onde aponta o conhecimento. O problema maior é que não é tão fácil compreender o fator crucial que é o conhecimento e a curiosidade. Todos sabem que se trata de um problema que só pode ser resolvido por melhores leis e programas educacionais dotados de compromisso com a vida humana. Afinal, o acesso sustentável a idéias que constituem forças facilitadoras de eficiência, justiça, progresso passam num dado momento a ser tão importantes quanto comida, chão, teto e lazer. São as primeiras que garantem as segundas.

Ideia e conhecimento. Cada dia mais informações e dados brutos estão sendo organizados e hierarquizados. Nasceu o trabalho sem emprego. Bastante relevante é que dados organizados constituem a base de decisões padrão, tanto para empresas quanto para pessoas atentas. Por isso mesmo, o resultado é que empresas como Google, Facebook, Amazon, entre outras, têm visto seus valores pularem a patamares altíssimos. Ainda que o futuro aponte para essa direção, nós ainda não sabemos como lidar sabiamente com ela.

A complexidade da sociedade sempre foi um fenômeno relativo ao poder da informação. Em tal mundo, garantir um nível democrático do acesso aos dados recolhidos e informações geradas é fundamental para disciplinar o uso do poder, não apenas econômico, mas também político. O que o mundo precisa é de pessoas e firmas, com conhecimento, liberdade para inventar e bem organizadas em empresas ou ambientes que as encorajem a influenciar, empreender e crescer.

*Paulo Delgado é copresidente do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 3 de outubro de 2016.

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