De malas prontas para embarcar rumo ao exterior. É assim que muitos empreendedores veem suas empresas. Com a economia ainda fragilizada, vendas em lenta retomada e o poder de compra reduzido, há cada vez mais gente interessada em empreender fora do país.
Há outro fator que justifica a decisão de se mudar. A burocracia brasileira imposta a quem deseja empreender também pesa muita nesta decisão.
Um levantamento feito pela Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, e pela empresa BAV Consulting, no segundo semestre de 2017, mostra que o Brasil está longe de ser um dos melhores países para se abrir uma empresa.
O topo do ranking é dividido entre países da Europa (Alemanha), Ásia (Japão) e América do Norte (Estados Unidos), respectivamente. O Brasil aparece na posição 29, atrás de países como Arábia Saudita, Malásia e Singapura.
Acesso a capital, ambiente empreendedor, mão de obra especializada e segurança jurídica. Essas são algumas das condições de um país que influenciam no resultado final de um negócio, de acordo com a pesquisa.
FAZENDO ACONTECER
Há quem diga que a maior burocracia para abrir uma loja no exterior é o conhecimento. O paulista Diego Utiyama, 30 anos, concorda.
Ele e sua mulher, a mineira Aline Sakamoto Utiyama, 28 anos, ganham a vida como empreendedores. Juntos, fundaram a Amora.jp, um e-commerce de sapatos brasileiros voltado exclusivamente para estrangeiros radicados no Japão.
A ideia veio de Aline, que sempre gostou de sapatos brasileiros, mas não encontrava as marcas preferidas fora do Brasil.
O e-commerce, que entrou no ar em agosto de 2015, vende botas, sandálias, chinelos e outros calçados de marcas como Beira Rio, Dakota, Moleca e Vizzano. A marca tem acordos de exclusividade com essas fabricantes no Japão.
Metade do público da loja é composto por clientes brasileirase 30% das compras são feitas por consumidores de outras nacionalidades.
O tíquete médio obtido pelo site é de cinco mil ienes (R$ 150 na cotação atual). No ano passado, a empresa faturou R$ 900 mil.
Em 2015, o Japão facilitou as condições para estrangeiros que pretendem abrir um negócio no país. Antes, o registro jurídico necessário para qualquer atividade comercial, só poderia ser solicitado por estrangeiros residentes no país.
Quem vivia fora do Japão precisava ser representado por um japonês para conseguir entrar com o processo de registro antecipadamente.
Com o novo procedimento, ficou mais fácil obter o visto de permanência e, mesmo à distância, os estrangeiros conseguem solicitar documentos empresarias e tratar de outros detalhes do negócio.
BARBA, CABELO E CACHORRO-QUENTE
Em outra cidade japonesa, Minokamo, Fábio Tanaka, 39 anos, inaugurou a Matadouro Barbershop, uma barbeariainspirada num estilo em alta no Brasil.
Há algum tempo Tanaka acompanha a consolidação do segmento de longe. Mais especializados, esses estabelecimentos se tornaram um espaço de socialização masculina e adicionaram serviços diferenciados. Tudo bem diferente do que é proposto pelos profissionais japoneses.
Hoje, além de brasileiros, o barbeiro atende muitos nativos que se adaptaram ao novo jeito de cortar o cabelo e aparar a barba.
E mesmo descobrindo novos hábitos e sabores, os brasileiros estão sempre em busca de minimizar a saudade do que deixaram em sua terra natal.
O dia do cachorro-quente e o rodízio de coxinha são uma espécie de chamariz para a Padoca, uma padaria em Montreal, no Canadá.
Quando chegou à cidade canadense, Gabrielle Pelin, proprietária da Padoca, percebeu que ter negócio próprio poderia ser uma boa ideia.
Recém-chegada, matriculou-se em uma escola de empreendedorismo com um projeto no ramo de alimentação.
Além de aprender sobre o tema, Gabrielle recebeu ajuda para montar seu plano de negócios, e também com marketing e contabilidade. Tudo bem lapidado para entender a legislação local e tornar o negócio real.
Foi à prefeitura e à vigilância sanitária para obter as licenças. Decidiu embalagens, e teve muita ajuda dos órgãos públicos canadenses.
Depois de seis meses, já tinha um trabalho reconhecido por consumidores locais e começou a formatar o espaço físico da Padoca, uma patisserie que produz e comercializa coxinhas e brigadeiros.
Sem nenhuma experiência anterior com empreendedorismo, Gabrielle diz que recebe muitas reclamações de empresários brasileiros.
“Escuto que é muito complicado abrir empresa. Aqui, a informação está em todos os lugares e as taxas são mais acessíveis”, diz.
ONDE ESTÃO OS BRASILEIROS
Um levantamento feito pelo Itamaraty estima que 1,4 milhão de brasileiros vivam nos Estados Unidos. Esse número corresponde a 48% da população que reside no exterior - cerca de três milhões de pessoas.
A Europa vem em segundo lugar com 24% desta população. Na sequência, a América do Sul (17%).
FOTO: Thinkstock
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