Qual é o balanço da economia brasileira em 2019? Pouco melhor que em 2018, na opinião de Ulisses Ruiz Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Ainda há muito a se recuperar, mas com uma agenda de reformas melhor definida, o mercado de trabalho em ritmo de retomada e a inflação sob controle, o economista diz que pode-se considerar que 2019 não foi um ano perdido.
Em um resumo geral, Gamboa destaca que houve uma variação positiva no consumo das famílias, ainda que por fatores por fatores pontuais, como a liberação do FGTS, mascarando a insuficiência de postos de trabalho; a permanência da inflação baixa, que também passou por pressões inflacionárias isoladas, como a alta da carne; o mercado de trabalho cresceu principalmente por meio do emprego informal; aceleração no crescimento da economia no último trimestre do ano e a estimativa do Banco Central em fechar o ano com alta do PIB de 1,16% em relação ao ano passado.
“Devemos considerar 2019 como um ano de transição e promissor em relações a novas perspectivas econômicas. Encerramos o ano com a Previdência aprovada, mesmo em meio a tantas discordâncias, avançamos nas discussões da Reforma Tributária, estamos com a Selic em seu patamar mais baixo da história e esperamos uma retomada nos investimentos que devem resultar em mais postos de trabalho", diz.
JUROS EM QUEDA
Com a inflação abaixo do centro da meta, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) avaliou que era possível seguir no movimento de queda de juros. Após quatro quedas consecutivas de meio ponto porcentual, a Selic encerra o ano em uma nova mínima histórica, de 4,5% ao ano.
“Vamos terminar o ano com a menor Selic da história. O BC já sinalizou que provalvemente, deve arrefecer a queda de juros, mas ainda que assim seja, as decisões do BC estão para além da política monetária. Vemos muita proatividade no aumento da concorrência bancária, da concorrência do crédito e isso também derruba os juros de mercado e é favorável a recuperação do consumo e ao investimento”.
De acordo com o economista, essa tendência cria um ambiente mais favorável para os empresários, pois reflete em recursos mais acessíveis para investir. Já para os investidores, a redução da Selic trará menor rendimento em aplicações de renda fixa.
INFLAÇÃO BAIXA
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou abaixo do centro da meta, de 4,25%, ao longo de quase todo o ano. No acumulado até novembro, o IBGE apontou uma alta de 3,12%. No fim de 2019, no entanto, uma categoria chamou a atenção dos brasileiros: a carne. Em novembro, a desvalorização do real e a alta da demanda chinesa pela produto brasileiro, levaram os preços do alimento a uma valorização acima de 8%.
“A inflação está em baixa em decorrência fundamental de uma recuperação mais lenta do que se esperava. Houve uma alta pontual da carne, que deixará a taxa mensal acima do que era esperado, mas que não reflete uma tendência. A expectativa é que a inflação siga nesse patamar, que é bom, pois não reduz o poder aquisivo da população em maior medida e também é favorael ao crescimento, ao menor custo de vida, e ainda favorece o consumo que é um motor da economia", diz Gamboa.
DÓLAR E CENÁRIO EXTERNO
A guerra comercial entre China e Estados Unidos e as negociações entre as duas maiores economias do mundo levantaram novas preocupações com a desaceleração da economia mundial e levou o dólar a R$ 4,25, em 27 de novembro - o maior preço nominal de fechamento do dólar comercial desde o Plano Real. Como as negociações entre as duas potências se estenderam durante 2019, entidades internacionais cortaram projeções de crescimento da economia global. Outro fator que contribuiu para a desvalorização do real foi o movimento de saída de dólares do Brasil.
“O setor externo foi motivo de preocupação. Houve também uma correção metodológica no que o BC estava calculando e ainda aguardamos definições do embate entre China e Estados Unidos. Temos um rombo externo, mas dado o nível de entrada de capitais, principalmente no longo prazo é um rombo bastante financiável. Pelo menos até o ano que vem, isso não deve ser um ponto de preocupação”.
DESEMPREGO
Com pouca variação, o mercado de trabalho não mostrou reação ao longo do ano. A taxa de desemprego ficou em 11,6% no trimestre encerrado em outubro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na última medição, feita em novembro, o desemprego caiu para 11,2%, atingindo 11,9 milhões. Além disso, a informalidade segue elevada. O Brasil tem quase 40 milhões de trabalhadores na informalidade, um número recorde, equivalente a 41,4% da força de trabalho. Quase todas as vagas geradas entre 2018 e 2019 foram sem carteira assinada.
“Temos muito espaço para melhorar - o setor da construção foi um grande empregador este ano. Acredito que haverá uma certa melhora nesse cenário. A julgar pelo comércio, em alguns lugares já vemos cartazes de procura-se, admite-se...até poucos meses não víamos isso em nenhum estabelecimento", diz o economista.
AGENDA DE REFORMAS
Gamboa recorda que nos últimos doze meses, o Congresso aprovou as principais propostas de reformas encaminhadas pelo Executivo, como a da Previdência, além de iniciativas como a MP da Liberdade Econômica. A Reforma da Previdência impôs a idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, além de um tempo mínimo de contribuição de 20 anos para homens e 15 anos para mulheres, no setor privado.
Em 2020, o governo federal colocará à prova sua capacidade para avançar as Reformas Administrativa e Tributária a fim de ampliar a reformulação estrutural do país. Na opinião do economista, a Reforma Administrativa, que reduz benefícios para futuros servidores, é complexa, porém deve avançar mais que a Tributária em 2020.
“É uma situação que não se resolve de forma imediata. A aprovação da Reforma da Previdência foi uma vitória, mesmo ainda incompleta e sem incluir estados e municípios. Ainda precisamos de ajustes, mas foi um grande passo. Embora o governo estivesse muito concentrado na Previdência, houve um grande aumento de proatividade no último trimestre e vimos o governo mandando várias propostas de emenda constitucional, como a da Reforma Administrativa", diz.
Projetada inicialmente para reduzir em R$ 1 trilhão os gastos públicos com aposentadorias e benefícios em dez anos, Ulisses recorda que a Reforma da Previdência aprovada deve gerar uma economia próxima de R$ 800 bilhões.
"O ministério da economia faz certo em cuidar primeiro da parte dos gastos pra depois falar em tributos. O sistema tributário tem muitos entraves e em termos de resultado fiscal, o crescimento desenfreado da despesa é uma conta que não fecha. Temos muito pela frente".
FOTO: Pixabay
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