Os pequenos negócios representam milhões de empreendedores individuais e empresários de micro e pequenas empresas no Brasil. Pode-se dizer que já são mais de 17 milhões de pessoas que, de alguma forma, trabalham por conta própria (alguns são até formalizados, embora façam parte de uma minoria) ou têm um pequeno empreendimento, registrado ou não.
E, a cada dia, têm-se notícias de amigos, conhecidos ou concorrentes que não aguentaram e fecharam seus negócios. Outros vêm e os substituem: “sob nova direção”.
Sempre que o Sebrae pesquisa sobre os motivos do negócio (que era o “ganha-pão” do empreendedor) não ter dado certo, recebe uma resposta quase padrão: faltou gestão financeira.
O que é gestão financeira
A gestão financeira é a parte mais importante dos negócios. Todos trabalham para ganhar dinheiro e realizar seus sonhos: criar bem a família, adquirir a casa própria, ter férias tranquilas, abrir uma filial e ampliar o negócio, trocar o táxi por um mais novo, lançar aquele produto que criou e que falta só “um pouquinho de dinheiro para estourar no mercado”.
A gestão financeira diz respeito a todas as ações e procedimentos administrativos relacionados com o planejamento, a execução, a análise e o controle das atividades financeiras do pequeno negócio. Em palavras simples: maximizar os resultados (lucro) das atividades.
Para iniciar uma gestão financeira, deve-se tomar uma decisão que, para quase todo o mundo dos pequenos negócios, é muito difícil: separar o dinheiro do empreendimento do dinheiro das despesas particulares (para manutenção da família).
É costume misturarem a Pessoa Física com a Pessoa Jurídica nos pequenos negócios. O bolso é um só (para pagar e receber) e isso atrapalha ou impede a gestão financeira do pequeno negócio.
A importância da gestão financeira nos pequenos negócios
A gestão financeira ajuda a ter uma noção correta dos custos e do resultado das vendas ou serviços. Quando não se sabe quanto custa seu produto, suas mercadorias ou os serviços que presta, não se sabe por quanto deverá vendê-los. Tampouco se sabe qual foi a margem real de lucro.
Lucro não é só dinheiro que entrou menos o que foi gasto: inclui o desgaste de ferramentas, dos equipamentos, veículos, instalações, reposição dos estoques, entre outros que são intangíveis.
O empresário terá que substituir, algum dia, seus equipamentos obsoletos, ferramentas gastas, computadores e veículos defasados, modernizar suas instalações, lançar novos produtos e, para tudo isso, será preciso dinheiro.
Se esses custos não são calculados na hora de fazer um orçamento para o cliente ou emitir nota fiscal, chegará um momento em que eles serão devidos e, nessa hora, irá se perguntar: onde está o dinheiro? Para onde foi meu lucro?
Por isso, as noções básicas de gestão financeira são tão necessárias.
Como melhorar
Sabe-se que quando o dinheiro está sobrando, as coisas ficam mais fáceis. O empreendedor ri à toa, aumenta estrategicamente seus estoques, ganha descontos pagando à vista ou aplica o dinheiro em fundos de investimento, Certificados de Depósito Bancário (CDB) ou na poupança no banco de sua preferência. É uma decisão prática: quando precisar, é só resgatá-lo.
Mas, e quando falta? Aqui algumas alternativas:
As mais onerosas
Pedir empréstimo no banco preferido. Nessa hora, ele verá que nem tudo são flores no relacionamento com seu banco. Os juros são altos, a exigência de garantias está aumentando, os prazos estão mais reduzidos e os gerentes de bancos têm que cumprir suas metas.
Se ele usar o cheque especial como extensão de sua conta corrente, estará trabalhando somente para pagar os juros e enriquecer os banqueiros. Usar o cartão de crédito e parcelar a fatura é uma forma de suicídio empresarial programado, pois os juros cobrados no parcelamento são os mais altos do sistema financeiro.
Vender/antecipar os recebíveis (cheques pré-datados, principalmente) via empresas de fomento mercantil (as populares "factoring"). O fator de deságio aplicado pelas factoring na compra não costuma ser baixo, mas é sempre uma opção.
As mais racionais
Negociar um prazo maior junto ao seu fornecedor ou credor, sem encargos onerosos (juros e multas) e sem comprometer sua imagem junto a ele. Ninguém gosta de ser surpreendido quando um pagamento esperado não é realizado. Mas quando é avisado e renegociado o prazo de pagamento, o credor geralmente é tolerante, pois anula o fator surpresa.
Pedir aos clientes devedores que antecipem seus pagamentos: perguntar-lhes se você pode depositar antecipadamente alguns cheques pré-datados que recebeu. Não cair no erro de descontá-los (tanto via depósitos quanto descontos ou negociações com factoring ou agiotas) sem avisar o emitente. Pode ser o fim do relacionamento com o cliente ou freguês. Aliás, caso o cheque pré-datado seja descontado antecipadamente pode dar motivo, inclusive, a pedido de indenização via judicial.
Negociar os recebíveis: se forem de cartão de crédito é muito mais fácil. É uma operação automatizada, principalmente se feita no próprio banco ao qual seus recebimentos estão vinculados (domicílio bancário). As taxas de desconto são favoráveis, uma vez que o risco da operação, para os bancos, tende a zero.
Vê-se que, de qualquer maneira, quando fica sem dinheiro (capital de giro) tudo é mais difícil. Mas, como não ficar sem dinheiro? É aí que entra a gestão financeira, via planejamento de investimentos, receitas, despesas e fluxo de caixa.
O planejamento
Fazer uma planilha (no computador ou à mão mesmo) anotando tudo o que pretende ou precisa gastar ou investir em determinado período (um dia, semana, mês, trimestre, semestre ou ano) é o mais indicado. Depois, rever criteriosamente e verificar se tudo, de fato, é necessário ou há itens que podem ser adiados (podem esperar mais tempo para serem realizados).
Nos gastos e despesas não esquecer de acrescentar uma previsão para aqueles que foram listados acima (intangíveis): reposição de maquinário, ferramentas, computadores, veículo (se for taxista, incluir a reposição do veículo por um mais novo e adequado, muitas vezes obrigatório pelas Prefeituras Municipais).
Feito isso, começar a pensar: de onde virão as receitas para cobrir estas despesas e gastos e, se sobrar, para investir?
A maneira mais simplificada e tradicional de ter esses números sempre disponíveis é por meio do “Controle de Fluxo de Caixa”:
numa coluna, chamada Entradas, anotar as previsões de receitas (faturamento);
noutra, denominada Saídas, as obrigações a pagar (fornecedores, ajudantes, comissões, impostos, energia, telecomunicações, água e assim por diante);
na terceira coluna, colocar o Saldo do período.
O Saldo é a diferença das Entradas com as Saídas. Se for negativo, é hora de pensar em como cobrir a diferença (déficit): adiar pagamentos, antecipar receitas (como visto acima) e, principalmente, pesquisar conscientemente onde foi que errou.
Será que as despesas estão corretas? Todas foram necessárias? E as receitas: o preço (de venda ou de prestação de serviços) está compatível com o esforço que faço? Está no negócio certo?
Sempre questionar-se e procurar melhorar o período seguinte. Já será um bom começo para implantar, no pequeno negócio, a gestão financeira.
Vale um lembrete final: nunca, mas nunca mesmo, sacrifique o capital de giro para realizar investimentos fixos. Capital de Giro, para os pequenos negócios (e para os grandes, também) é sagrado.
É o oxigênio que manterá o negócio vivo por mais tempo. Investimentos fixos devem ser realizados com financiamentos de prazos compatíveis e juros adequados, geralmente feitos com repasse pelos bancos e cooperativas, que utilizam recursos dos governos federal ou estadual.
Se não conseguir financiamento bancário, pode-se negociar com o fornecedor dos bens um parcelamento adequado, mas não cortar o oxigênio. Sem ele, nada sobrevive.
O Sebrae oferece cursos de educação financeira: sempre serão úteis para o constante aperfeiçoamento da empresa.
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