Todas as sextas-feiras, os 90 funcionários da Lambda3, desenvolvedora de software paulista, têm a opção de participar de palestras, seguidas de bate-papo, organizadas por outros funcionários da empresa.
Geralmente, os temas das conversas são tendências tecnológicas e o mercado de software. No entanto, não há limitação de assuntos. Já houve encontros, por exemplo, em que foram tratadas histórias em quadrinhos e artes marciais.
Além de ser um momento de troca de conhecimentos, que podem ser úteis no dia a dia do trabalho, os eventos têm a função de criar um senso de comunidade entre os profissionais e manter o escritório vivo, com constantes novidades.
A iniciativa integra um conjunto de práticas de valorização de pessoal. Num mercado em que muitas empresas se gabam por oferecer videogame, escritório colorido e permitir o uso de bermudas, as ações da Lambda3 vão além de transformar o ambiente num parque de diversão. O foco é tornar o funcionário protagonista dentro da empresa.
E não para por aí. Mensalmente, há reuniões em que indicadores da empresa são disponibilizados para todos. É a política de números abertos.
Os funcionários têm acesso ao faturamento, salários de acordo com cargos e rentabilidade de cada contrato.
Grande parte dos clientes é do setor financeiro, como Banco Santander, BTG e Brasilprev.
“A transparência permite ao funcionário entender em qual momento está a empresa e qual a sua contribuição no negócio”, diz Victor Hugo Germano, fundador e CEO da Lambda3.
A equipe técnica também tem destaque. Os profissionais podem participar de reuniões estratégicas e são consultados no processo de novas contratações. A ideia é fazer com que eles participem da gestão e tomem decisões.
De acordo com Germano, as medidas fazem com que eles compreendam e conduzam o próprio trabalho. E a vontade de crescer acaba sendo natural – e, consequentemente, ajuda na expansão da empresa.
E os números comprovam a eficácia. Nos últimos anos, a Lambda3 tem crescido 50% anualmente. Em 2018, a expectativa é faturar R$ 22,5 milhões.
TRABALHADOR FELIZ, NEGÓCIO PRÓSPERO
As práticas de recursos humanos da Lambda3 têm mais a ver com criatividade na gestão e vontade de valorizar o pessoal do que grandes orçamentos para a área. Recentemente, a Lambda3 figurou entre as cinco primeiras colocadas no ranking das Melhores Pequenas Empresas para Trabalhar.
A lista, que considera empregadoras paulistas com 30 a 99 funcionários (independentemente do faturamento), foi organizada pela Great Place To Work(GPTW), consultoria de gestão de pessoas.
A amostragem segue uma metodologia própria. Primeiro, os funcionários pontuam o ambiente e o dia a dia da empresa. Depois, é feita uma avaliação qualitativa dos comentários dos colaboradores. Por último, a GPTW analisa as práticas de recursos humanos.
Na média, os pequenos negócios da lista tiveram nota 90 (de 0 a 100). O número é maior do que a média da lista Brasil, nota 86, que compreende empresas de todos os portes.
De acordo com Lina Tanaka, gerente de conteúdo da GPTW, embora haja menos chance de uma pequena empresa ter departamento estruturado e orçamento de RH, o ambiente tem a vantagem de ter um clima mais flexível. O gestor, que geralmente é o dono, também está mais presente e próximo do funcionário. E é necessário tirar proveito da situação.
“A pequena empresa carrega muito do espírito do empreendedor”, afirma Lina. “Ele pode adaptar práticas do mercado para a realidade de seu negócio”.
Entre os destaques do levantamento do GPTW há o fato de que 95% dos funcionários acreditam que os chefes são honestos e éticos na condução dos negócios e 98% acreditam que todos são respeitados independentemente de orientação sexual, cor, etnia, gênero ou idade.
De acordo com Lina, quando o assunto é adaptação, um programa de avaliações de desempenho pode ser transformado num café entre gestor e funcionário.
E orientações constantes fazem a diferença. Mais da metade dos funcionários das empresas mais bem posicionadas no ranking receberam mais de três feedbacks durante o ano.
Outra recomendação da executiva é o gestor identificar recompensas que não tragam custos adicionais e que atendam as expectativas individuais dos funcionários.
Há empresas que oferecem folga como recompensa de cumprimento de metas e objetivos.
Outras disponibilizam cursos e treinamentos à distância, que podem ser feitos a baixo custo pela internet.
Num momento em que o desemprego continua alto, é possível que gestores com má mentalidade de negócios considerem que não seja necessário investir em valorização de funcionário, devido à baixa demanda no mercado de trabalho.
Eles podem acreditar que a responsabilidade de manter o emprego é apenas do trabalhador. Quem pensa assim, tem menos chances de ir longe.
Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Gallup em 2017, funcionários altamente engajados aumentam a satisfação do cliente, gerando um volume 20% maior de vendas.
A pesquisa da GPTW trouxe dados complementares. As empresas do ranking, que valorizam seus quadros, ostentam taxa de somente 8% de saída voluntária - aquela em que o empregado pedi demissão.
Ao mesmo tempo, a média aferida pelo Diesse, que acompanha empresas de diversos setores, é de 25%.
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