Depois de ser uma dasheadhunters mais prestigiadas do mercado, Fátima Zorzato encerrou um longo ciclo profissional como sócia e presidente da consultoria Russell Reynolds Associates Brasil. Recrutadora e conselheira de presidentes e alta cúpula das grandes empresas, não pretende parar. Ela está colocando de pé umastartup especializada em sucessão familiar e preparação de herdeiros.
Há mais de 15 anos dedica parte do seu tempo ao papel de mentora de programas de desenvolvimento de empreendedores em instituições como a Endeavor. Recentemente, passou a cuidar em especial das mulheres, participando como conselheira do programaWinning Women, de acelereção de negócios, promovido pela firma multinacional EY.
Nesta entrevista ao Diário do Comércio, Fátima explica como funcionam os programas de desenvolvimento de empreendedor e o papel do mentor. Aborda o que aprendeu nessa convivência íntima com os dilemas de empreendedores com gana de construir negócios de valor. Ediscorre sobre alguns conselhos valiosos que podem alavancar o salto empresarial das mulheres.
Segundo ela, perduram diferenças que precisam ser resolvidas para que mulheres e homens se igualem no número de empresas bem sucedidas, especialmente quando se trata de pensar grande e exercer o poder. Mas, ultrapassada essa barreira, os dilemas são os mesmos, não importa o gênero do empreendedor ou o porte da empresa.
Como funcionam os programas de desenvolvimento de empreendedorismo?
Considero o impacto de um programa deste tipo semelhante ao de fazer vários MBAs. No período de um ano, é possível aprender sobre questões relacionadas a todos os ciclos e dilemas de um novo negócio, como avaliar o valor da empresa, obter crédito, desenvolver um novo produto ou melhorar o perfil da equipe. Os programas que funcionam são o que conseguem definir os gaps e colocar um holofote sobre eles, de uma forma que realmente acelere o desenvolvimento do empresário e da empresa. Por isso, os processos de seleção têm critérios e objetivos claros para estabelecer o potencial de cada participante. Muita gente fica de fora da seleção, mas só mesmo durante o processo a capacidade de desenvolvimento de cada um vai ser confirmada ou não.
Há muitas diferenças nos dilemas de cada um?
Os dilemas que os novos empreendedores trazem, seja homem e mulher, são os mesmos que as grandes empresas têm e estudam. Como descobrir pessoas, como trabalhar o tempo, como desenvolver novos produtos. Um executivo de empresa madura tem as mesmas dúvidas de um empreendedor, os ciclos são muito parecidos. A diferença é a escala. O empreendedor precisa cuidar de tudo e não pode terceirizar a ajuda. O empreendedor é um polvo.
Como a mentoria alavanca o desenvolvimento?
A mentoria concentra nas questões da empresa, ao contrário do coach, que lida com a pessoa. No modelo adotado pela EY para as empreendedoras, as mentoras (ou conselheiras) identificam um ou dois dilemas a cada etapa e, se preciso, trazem profissionais especializados para fazer um diagnóstico. Pode ser fortalecer vendas ou a produção A forma de assimilação é diferente para cada uma. Às vezes, se discute o que está aparente e pode ser que a empreendedora volte e diga que não entendeu. E pode ser que incorpore o aprendizado no dia seguinte. O importante é saber que só há uma mudança de mentalidade se o aprendizado for colocado na prática.
Qual o papel do mentor no processo?
Enquanto o coach estimula a autodescoberta, o mentor interfere diretamente; importa a solução e o encaminhamento. O papel de uma conselheira, como eu, é ajudar a acelerar o desenvolvimento. Nos encontros, identificamos gaps do negócio, fazemos diagnóstico do problema e esclarecemos dúvidas, mostrando com exemplos como pode ser resolvido.
Faltam modelos para as mulheres?
O inspiracional é muito poderoso para estimular o empreendedorismo, em especial o feminino, e precisa ser multiplicados. É tudo muito recente, não faz 40 anos que a mulher saiu de casa e ainda há poucos exemplos de grande empresária. Tem que ter preparo e isto demora. Por isso, um dos objetivos dos programas de desenvolvimento é acelerar o processo. Na minha experiência de conselheira, vejo que estes momentos estão sendo de muita inspiração para elas. É óbvio que nem todas vão conseguir aproveitar, mas é preciso identificar o que falta desenvolver.
Existe mesmo um medo de ser grande entre as donas de negócios?
Faço mentoria para empreendedores na Endeavor (NR – ONG dedicada a estimular e acelerar o desenvolvimento de novos negócios) há 15 anos, e o número de homens ainda é muito maior que o de mulheres. Não sei se as mulheres têm dificuldade de pensar grande, mas o perfil de negócios da maioria ainda está mais ligado a um modelo de sobrevivência para sustentar a família, e ela costumam trabalhar sozinhas. Além disso, atuam em áreas com menor escalabilidade no negócio. Por isso, parece que empreender é mais ligado a homem. Escalabilidade é a questão-chave para quem planeja o negócio e, para isso, é preciso querer crescer.
Quem exemplifica este pensar grande?
Um exemplo é o da Zica Assis, fundadora da empresa Beleza Natural. Ela não quis criar um produto ou um salão para fazer alisamento, mas desenvolver um processo para cuidar de cabelo que pudesse ser multiplicado em uma rede de salões. Testou muito tempo uma hipótese e conseguiu. Isto é ter visão de escala e fazer um negócio disparar.
A mulher tem mais dificuldade de pedir ajuda que o homem?
Uma diferença forte entre homens e mulheres empreendedores aparece na hora de expor o que precisa. As dificuldades paraidentificar os problemas são muito parecidas entre os dois, e todo mundo precisa conversar. No entanto, o homem não chega falando ‘não sei de nada’. Diz ‘tenho uma pequena dúvida’. Já a mulher fala ‘não sei por onde começar’, com um jeito de carente que eles nunca demonstram. A pergunta é a mesma, o tom é diferente. A mulher subestima mais aonde quer chegar.
Isto afeta o aprendizado?
Se você faz ela mostrar como funciona a empresa, ela sente um alento de ver tudo o que construiu. Ela se espelha no que conta para alguém, se identifica. As dúvidas são relevantes e, se ela consegue se apropriar do conselho, faz a diferença.
Tem alguma vantagem para a mulher ser assim?
A mulher tem mais coragem de dizer que não sabe e mostrar fragilidade. Esse jeito feminino de lidar com o problema, no entanto, pode provocar insegurança nos outros. Ela precisa lembrar que se trata de business, não é emocional. Faz diferença erguer a guarda um pouco mais, não ser tão direta. O homem não se preocupa com o ‘o que vão pensar’.
É indispensável ao empreendedor construir uma imagem pública?
Um das decorrências da dificuldade de pedir ajuda é entender o papel do networking. O empreendedor precisa construir sua imagem pública, e a mulher fica muito preocupada em aparecer. Não faz uso do conhecimento conquistado, tem vergonha de contar o que faz. É comum que ninguém conheça suas empresas. Como se diz, não dá para comer o bolo e guardar o bolo. O homem não está nem aí. De cada 10, um não vai gostar de aparecer.
Como praticar o networking?
Precisa gastar parte do seu tempo em se tornar conhecida e convencer. E para isso tem que ter pauta. Se antes gastava tempo com o produto, agora precisa sair para fora e fazer a imagem da empresa. Este é um ciclo normal para o homem, não para a mulher. Investir na rede de relacionamentos é um dos temas recorrentes em mentoria. Explicamos o que envolve, desde estabelecer como fala de si e da empresa a aparecer em uma revista. O próprio programa é uma rede que precisa ser bem aproveitada. O empreendedor pode ter contato com quantos mentores quiser. Com este tipo de conversa, há um entendimento da importância da troca de informação.
Existe diferença no exercício para a mulher?
Além da dificuldade de pedir ajuda, outra diferença é como a mulher hesita em relação ao poder. Um empreendedor tem que exercer o poder, não importa o que outro vai achar. O homem não tem medo de assumir o poder e isto independe de personalidade.
Esta dificuldade tem relação com o medo do sucesso?
Sim. Muitas pessoas fazem um grande esforço para subir e, quando chegam lá, ficam amedrontadas e, às vezes, cínicas. Isto acontece nos dois gêneros, mas é muito mais comum em mulher. É o pavor de achar que não merece estar aonde chegou, que não foi por méritos próprios. E desiste. É claro que no caso da mulher não existe o pressuposto de que ela pode ter sucesso como acontece de forma natural com os homens. Sinto que isto começa a mudar.
Você enfrentou estas limitações na sua vida empresarial?
Eu mesma sou um exemplo para as duas situações. Há 18 anos, não havia este arsenal de assessoria. Quando vendi minha primeira empresa, tive vergonha de pedir ajuda. Mesmo tendo clientes na área de fundos de private equity. Fui em frente sem perguntar. A primeira geração de mulheres engenheiras e advogadas já entrou na sala de aula com medo. Fui a única mulher na área de consultoria de carreira e na minha empresa por muito tempo. Convivi com o medo a vida inteira. Hoje, elas já sabem como enfrentar.
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