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Nova coleção alivia caixa, mas não é uma primavera

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Notícias 21 Set, 2016
No Brás, onde se concentra um dos maiores polos de atacado e varejo de roupas, os efeitos da crise são visíveis, com queda de 10% nas vendas até agosto e lojas às moscas

O varejo de vestuário registrou em 2015 o pior resultado de uma década e meia. O volume de vendas das lojas de roupas, de quase R$ 190 bilhões em 2015, caiu 8,6% ante o ano anterior, de acordo com a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) do IBGE.

Neste ano, o quadro se agravou para o setor. De janeiro a julho, a queda nas vendas atingiu 9,4% ante igual período de 2015. Somente em julho as vendas caíram 5,8% em relação a junho e 14,2% sobre julho do ano passado.

Em um dos bairros paulistanos que concentra um dos maiores polos de atacado e varejo de roupas do país, o Brás, os efeitos da crise são visíveis, com queda de 10% nas vendas no acumulado até agosto deste ano.

As lojas que sobrevivem estão às moscas, de acordo com a Federação dos Varejistas e Atacadistas do Brás (Fevabrás).

A CNC (Confederação Nacional do Comércio) projeta queda de 11% neste ano sobre 2015, com a expectativa de um quarto trimestre um pouco menos negativo.

 

“O varejo depende diretamente do mercado de trabalho, que começa a reagir lentamente, e de financiamento. São mais de 12 milhões de desempregados "diz Fábio Bentes, economista da CNC. "E a taxa de juros ao consumidor, que bateu nove recordes consecutivos, atingiu, em julho, 71,9% ao ano, de acordo com o Banco Central", .

Tal como ocorreu em julho, quando o frio intenso provocou uma corrida do consumidor às lojas em busca de casacos e cobertores, há um fator sazonal que pode dar um alívio para o caixa das empresas: a chegada da coleção Primavera-Verão às lojas .

“O comerciante ainda está reticente, com medo de comprar grandes volumes, mas voltou a adquirir pequenas quantidades de peças, até porque precisa manter a loja aberta”, afirma Fauze Yunes, sócio proprietário da confecção Dinho’s, com loja e fábrica no Brás.

O que se observa no comércio de roupas neste mês, de acordo com atacadistas e lojistas, é simplesmente uma reposição de estoque com peças mais leves -nada que indique uma retomada efetiva do consumo.

 “O empresário não consegue trabalhar com saldos da coleção de inverno nesta época e, por isso, obrigatoriamente, tem de comprar mercadoria para não sair do negócio”, diz Stefanos Anastassiadis, sócio-diretor da Controvento, uma das mais tradicionais confecções de roupas femininas do Bom Retiro.

Na quinta-feira, 15, a Fevabras reuniu 35 dos principais atacadistas e lojistas do Brás. O tom das conversas era de que o fundo do poço da crise já havia passado.

DEDIVITIS, DA FEVABRÁS: EMPRESÁRIOS ESTÃO MAIS OTIMISTAS

“Depois de muito tempo, os empresários demostraram certo otimismo em relação aos negócios e falaram até de investimentos”, afirma Gustavo Dedivitis, presidente da federação.

O fim do processo de impeachment e a entrada de uma nova equipe econômica, que, para os lojistas, parece estar empenhada em equilibrar as contas públicas e fazer as reformas de que o país precisa, melhoraram o humor de empresários e consumidores.

“Os lojistas estão mais otimistas. Setembro começou com ritmo de vendas melhor do que o de agosto”, afirma Nelson Tranquez, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Bom Retiro.

Em sua confecção especializada em jeans, a Loony, com lojas de atacado e varejo no Brás, no Bom Retiro e em Moema, as vendas cresceram entre 5% e 7% neste mês, em comparação a igual mês do ano passado.

A melhora no ânimo dos lojistas, de acordo com Tranquez, já pode ser percebida no número de estabelecimentos fechados no bairro.

No pico da crise, em abril e maio deste ano, havia 144 lojas fechadas nas principais ruas do Bom Retiro. São agora 122, com tendência de redução até o final do ano.

Convém lembrar que, em janeiro, o mesmo levantamento identificava 85 pontos comerciais com as portas cerradas na região. “O fato de haver menos lojas fechadas no bairro do que há quatro meses é sinal de que os comerciantes estão voltando a investir”, diz Tranquez.

Lojistas do Bom Retiro estimam um aumento de vendas de até 30% em setembro, na comparação com agosto, mas ainda reclamam de queda no faturamento em relação a 2015.

DESCONTOS

Para atrair os clientes, mesmo com peças novas nas vitrines, os empresários mantêm as promoções.

Na Just Lulu, localizada na Rua José Paulino, por exemplo, lojistas que compram mais de 12 peças têm 20% de desconto no pagamento em dinheiro. Na compra de meia dúzia, 10%.

MACEDO, DA JUST LULU: COMPRAS DE LOJISTAS CAÍRAM PELA METADE

“As vendas estão melhores neste mês porque agosto foi horrível. Mas os lojistas estão comprando neste ano metade do que compravam no ano passado”, afirma O gerente Carlos Macedo.

Na Jotatreis, na Rua Aimorés, o lojista pode parcelar a compra em até 90 dias, de acordo com a gerente Alessandra Campos Martins. Na Chou Chou, localizada na mesma rua, o cliente já tem desconto de até 30% na compra acima de 100 peças.

Quem antecipou o lançamento da coleção obteve melhor desempenho em agosto. É o caso da Bonequinha de Luxo,. “As  vendas estão dentro do previsto. Agosto não foi um mês ruim”, afirma a gerente Adriana Soares, que comercializa peças de Primavera-Verão desde junho.

A reação, ainda que tímida, do comércio de roupas, só aconteceu porque alguns lojistas conseguiram liquidar estoques de inverno com o frio mais intenso de julho, na avaliação de Marcelo Prado, diretor do IEMI, consultoria especializada no setor de vestuário.

“O lojista estava sem perspectivas no primeiro semestre. Agora, um pouco mais capitalizado, voltou a comprar, mas com a preocupação de trabalhar com o mínimo estoque possível”, diz ele.

"A demanda das lojas para as confecções está muito aquém do que gostaríamos", afirma Ronald Misijah, presidente do Sindivestuário. Ele faz uma analogia para explicar o momento do setor de confecções.

"O transatlântico estava indo em direção à rocha e agora começou a reverter o motor. Até retornar ao local onde estava vai demorar", diz.

As 10 mil confecções no Estado de São Paulo, de acordo com ele, estão produzindo volumes 30% inferiores aos do ano passado.

A boa notícia para o varejo de vestuário, de acordo com Prado, do IEMI, é que começa a haver uma demanda reprimida por roupas, a exemplo do que ocorreu em outros períodos de inflação e juros altos. O que significa que vai chegar uma hora que o consumidor vai ter de voltar a consumir. 

De agosto a dezembro deste ano, de acordo com projeção do IEMI, o varejo de roupas deve movimentar cerca de R$ 96 bilhões, o que representa um crescimento nominal de 6,3%, na comparação com igual período de 2015.

Se a inflação se mantiver em 10%, o faturamento real do setor deve cair, portanto, perto de 4% neste final de ano. Veja abaixo os números anuais do setor.

Bentes, da CNC, diz que a confederação projeta para este ano queda de 11% no volume de vendas do varejo de vestuário porque não vê sinais de inversão nas taxas de desemprego e de juros no curto prazo.

“Em duas modalidades de pagamento muito utilizadas pelos consumidores, como o cartão de crédito e o cheque especial, as taxas de juros têm três dígitos. Quem arrisca comprar?”, diz ele.

Em julho, de acordo com levantamento do Banco Central, a taxa cobrada no cartão de crédito era de 470% ao ano e, no cheque especial, de 318%. “Significa que R$ 1.000 em dívida vira R$ 2.000 em menos de seis meses”, afirma Bentes.

Para que a reação do comércio neste mês, estimulada pela chegada da coleção Primavera-Verão se sustente, de acordo com lojistas e economistas ouvidos pelo Diário do Comércio, é preciso, além da inversão das taxas de desemprego e de juros, que o governo coloque em prática as medidas de ajustes anunciadas até agora para colocar a economia nos trilhos.

“Se o compromisso do governo for de fato arrumar a casa e fazer as reformas, o lojista e o consumidor tendem a ficar cada vez mais otimistas e a comprar. Se não..O momento é crítico”, diz Bentes.

FOTOS: Fátima Fernandes

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