O pensamento econômico liberal já traçou o diagnóstico há uns bons anos: as empresas e os trabalhadores sofrem no Brasil com a baixa produtividade, o que bloqueia o crescimento e um ambiente de negócios que beneficie a população como um todo.
O Banco Mundial voltou nesta quarta-feira (07/03) ao assunto, com um relatório de 106 páginas intitulado “Emprego e crescimento: a agenda da produtividade”, em que 25 economistas se debruçaram sobre o leito do antigo paciente.
Uma das conclusões às quais eles chegaram é a seguinte: abrindo-se mais ao mercado externo e estimulando a concorrência, uma ação coordenada do Brasil com seus parceiros do Mercosul possibilitaria tirar 6 milhões de pessoas da pobreza.
O caminho para se chegar a essa conclusão é um pouco tortuoso. Ao se recuperar da recessão mais aguda das últimas décadas, o país está sem os fatores necessários para impulsionar a renda e o emprego de boa remuneração.
Isso acontece devido a um quadro preocupante. Com uma economia relativamente fechada, o país está envelhecendo rapidamente, com um impulso menor da anterior força de trabalho jovem e crescente.
Esse quadro se reverteria com o aumento da produtividade das empresas e dos trabalhadores, para que eles demonstrem o mesmo dinamismo já existente em setores como o agronegócio, a aeronáutica ou a extração de petróleo.
PRODUTIVIDADE: DUAS COMPARAÇÕES
Alguns dados sobre o gargalo da produtividade. Caso estruturasse sua produção como ocorre com a malha empresarial dos Estados Unidos, a renda per capita brasileira seria 2,7 vezes maior.
Enxergando o mesmo problema por outro ângulo, caso as indústrias brasileiras “funcionassem com a mesma eficiência que as norte-americanas, a produtividade seria aumentada em mais de quatro vezes”.
O que é então que está faltando?
Para o estudo do Banco Mundial, o ambiente de negócios predominante favorece empresas já estabelecidas no mercado e dificulta a inovação e a entrada de novas empresas.
Aquelas que trariam uma inovação maior esbarram em barreiras não-tarifárias e em políticas públicas que distribuem subsídios a empresas já existentes, distorcendo os mercados do capital e do trabalho, em lugar de estimular a concorrência.
Há ainda a fragmentação dos órgãos do governo responsáveis pelo apoio às empresas, o que leva involuntariamente à manutenção de políticas que se mostram ineficazes.
O que o Banco Mundial propõe é ambicioso. Ele sugere a mudança da relação entre empresas e Estado, “passando de uma relação de vantagens e privilégios para uma relação que busque nivelar o mercado, incentivando a iniciativa e apoiando trabalhadores e empresas que se ajustem às demandas do mercado”.
O ambiente predominante na economia brasileira favorece a acomodação em patamares pouco ambiciosos. Um exemplo: em 20 anos, o trabalhador brasileiro ganhou apenas 17% em produtividade, quando nos países de maior renda esse ganho, no mesmo período, foi de 34%.
Vejam que esse raciocínio – e é uma constatação do Diário do Comércio - escapa aos padrões que hoje orientam as discussões sobre o papel do Estado, que é muitas vezes refém de políticas, que estimulam a ineficiência em nome da preservação da mão de obra e do baixo investimento em bens de capitais.
Empresas e sindicatos andam de mãos dadas na direção do mesmo abismo.
O relatório não acredita que seja possível voltar a um passado recente, quando o aumento da renda per capita e a redução da pobreza foram provocados por fatores que agora não mais se sustentam.
Ocorreu, a partir do ano 2000, um aumento da taxa de emprego, com um contingente de jovens que entrava pela primeira vez no mercado.
Mas esses trabalhadores estão envelhecendo, depois de políticas fiscais e de preços das commodities que estimularam um modelo de crescimento baseado apenas no consumo.
Foi justamente a inversão dessas condições favoráveis que levaram à recessão dos últimos cinco anos. Os preços das commodities e os gastos do governo não eram mais fontes sustentáveis para o crescimento.
OPERÁRIO NO BRASIL E NO CANADÁ
Mas voltemos à produtividade.
Segundo o texto do Banco Mundial, um trabalhador brasileiro médio precisa trabalhar mais de cinco vezes o número de horas que um trabalhador canadense para atingir o poder de compra necessário para a aquisição de um carro de tamanho médio.
Se os trabalhadores produzem mais a cada dia de trabalho, ou levam menos tempo para realizar as mesmas tarefas, a empresa fica mais competitiva, paga salários maiores e vende seus produtos por um preço menor. Todos saem ganhando.
No quadro atual, o operário canadense de uma montadora ganha em média US$ 19 por hora, enquanto o brasileiro ganha pouco mais de US$ 6.
E não porque a mesma montadora é malvada num país e generosa no outro. Ela remunera duas escalas diferentes produtividades.
E vejam que o setor automobilístico é bem mais aberto à concorrência externa que os demais. Durante o governo Collor(1990-1992), as tarifas de importação caíram, em média, de 30% para 13%.
E vejam que curioso. Mesmo sem comprarem automóveis, os pobres daquela época tiveram um crescimento da renda familiar duas vezes maior que as famílias mais ricas.
Foi um grande choque de concorrência.
TARIFA MENOR DE IMPORTAÇÃO
É aqui que o documento do Banco Mundial cruza os cenários de aumento da concorrência e da produtividade com o de redução da pobreza.
A proposta é reduzir pela metade as tarifas que o Mercosul pratica para produtos e serviços importados de terceiros, com a paralela supressão de qualquer imposto de exportação.
Com isso, as exportações brasileiras cresceriam 7,5%, as importações aumentariam em 6,6%, e o PIB aumentaria 0,93 ponto percentual.
Por essa nova dinâmica, os trabalhadores mais qualificados sairiam ganhando.
Mas eles integrariam um comboio atrás do qual os mais pobres também seriam beneficiados. Vem daí a previsão de 6 milhões de brasileiros a menos, abaixo da linha de pobreza.
Para ler na íntegra o relatório do Banco Mundial,clique aqui.
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