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Mães contam como conciliar empreendedorismo e filhos

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Notícias 12 Mai, 2017
Millhões de mulheres brasileiras têm encontrado no empreendedorismo a melhor alternativa para se realizar na carreira e cuidar das crianças

Construir uma empresa é, de certo modo, conceber um filho. Da geração da ideia até os primeiros anos de crescimento, um negócio nascente exige cuidados, dedicação e investimento para ficar em pé. Tempo e dinheiro são essenciais nos primeiros anos.

Empreender ao mesmo tempo em que se opta pela maternidade, portanto, pode parecer um contrassenso. Mas não tem sido para 74% das empreendedoras brasileiras. Todas elas mães, em um universo de 8 milhões de mulheres, segundo o Sebrae. Para essas brasileiras, empreender vem sendo um meio de vencer desafios de ordem familiar e econômica.

 

 A promessa de horários flexíveis e de autonomia calam fundo na hora de trocar a carteira assinada pelo CNPJ.  A motivação de ficar perto dos filhos, contudo, costuma vir antes da ambição de faturar. Por isso, elas costumam abrir negócios de menor porte, em setores nem sempre rentáveis ou modelos nem sempre escaláveis.

O pensamento mágico é “quero fazer alguma coisa que me deixe com tempo para as crianças”. Mas, assim como acontece com os filhos, boas empresas nascem para crescer e prosperar, e não para ficar pequenas uma vida inteira. 

Líder dos programas de liderança feminina da  Ernst & Young (EY), Andrea Weichert alerta que um erro comum é trocar uma boa posição por um negócio criado apenas por necessidade, sem planejamento: “Essa pode ser uma decisão perigosa e sem volta”, diz. Uma outra ilusão das empreendedoras de primeira viagem é pensar que terão mais tempo. “O mais provável é trabalhar mais horas, e não menos”, diz Andrea.

A chance de buscar um filho na escola, sentir um abraço e ver seu sorriso, ou estar em casa antes do jantar, para contar uma história e vê-lo dormir, no entanto, pode parecer missão quase impossível para quem trabalha numa empresa convencional.

Ascender na carreira corporativa também é mais difícil para elas. Dados da consultoria McKinsey mostram que o funil se estreita no nível gerencial. As diferenças de oportunidades entre os sexos se aprofundam na liderança sênior, nos cargos de diretoria e também no chamado C-Level, onde estão os melhores cargos e salários.

No Brasil, apenas 8% das cadeiras de CEO são ocupadas por profissionais do sexo feminino. Empurrado por esse e outros fatores, o número de empreendedoras no país cresceu 16% em pouco mais de uma década, obedecendo a uma tendência já observada nos Estados Unidos. O número de empresas fundadas por elas nos EUA aumentou 45% — um crescimento cinco vezes maior em relação à criação de negócios como um todo. Recém-publicado, o estudo Labor after Labor, conduzido pela Fundação Kaufmann, mostra que 75% das mulheres decidem empreender e ser mães entre 20 e 35 anos de idade.

Para Irene Natividad, CEO do Global Summit of Women, fórum que tem colocado em pauta o papel da mulher no mundo dos negócios, ser mãe pode ser, sim, uma vantagem para as empreendedoras: “Ao lidar com os filhos, elas treinam sua capacidade de negociar”, diz. Estudo da Endeavor indica que as empreendedoras tendem a ser mais habilidosas no trato com os funcionários. “O estilo feminino de liderar dá consistência ao negócio”, diz Camilla Junqueira, diretora de cultura empreendedora da Endeavor.   

Nesta reportagem, mostramos seis empreendedoras de diferentes regiões do Brasil que foram capazes de superar todos os obstáculos e criaram negócios prósperos e saudáveis — e filhos também —, como bem ilustram suas fotos e depoimentos inspiradores para quem deseja criar a sua empresa.

Isabela Pascoal, 43 anos, mãe de João, 6 anos

Desde 2007, estou à frente de dois braços do grupo DPaschoal: a Fundação Educar, em Campinas, e a Fazenda Daterra, em Patrocínio, Minas Gerais. Como a fundação e a área comercial da Daterra ficam em Campinas, vou para lá duas vezes por semana. Nos outros dias, fico em São Paulo, onde moro, e resolvo questões relacionadas ao negócio. A cada 40 dias, visito os cafezais em Patrocínio.

Fiquei grávida do João em 2010. Com três meses de gestação, tive deslocamento de placenta e precisei parar tudo. Não podia levantar do sofá. Isso me mostrou que, quando é preciso parar, você se organiza. Depois que ele nasceu, trabalhei em casa por cinco meses. Vinha gente fazer reunião aqui, e também usei muito Skype. O João tinha 9 meses quando passei uma semana em Nova York para participar de um evento. Eu lá, e ele pegou uma baita virose. Foi difícil, mas a babá e meu marido, superparceiro, estavam aqui para cuidar dele.

Agora em fevereiro, ele ficou doente de novo; desta vez, fiquei em casa cuidando dele e trabalhando. Para conciliar maternidade e negócio, é importante ter um propósito forte no trabalho, seja financeiro, seja social ¬— porque, com o filho, você passa a ter um propósito muito forte em casa. Acho bom que a criança não seja criada em um mundo ideal. É importante sentir saudade, saber que a mãe vai e volta.

A única culpa que sinto é quando estou com meu filho e ao celular ao mesmo tempo. Gosto muito de trabalhar, me satisfaz tanto quanto ser mãe. Adoro pegar na escola, dar comida, mas também sou muito feliz no trabalho. Tento passar isso para o João.

EMPRESA:
Fazenda Daterra
Sede: Patrocínio (MG)
Funcionários: 250
Faturamento em 2016: R$ 62 milhões

Iliane Alencar, da Tecsaúde, e sua filha Lara (Foto: Eduardo Siqueira / Editora Globo)

Iliane Alencar, 40 anos, mãe de Lara, 8 anos

A ideia da empresa surgiu em 1997, quando eu cursava engenharia eletrônica e fui fazer um trabalho em um hospital de Recife. Com dois sócios, também engenheiros, criamos a Tecsaúde, especializada em gestão de equipamentos médicos. Na época, não tinha casamento nem filha, então ficava mais fácil dedicar 12 horas do dia à empresa. Passávamos muito tempo em campo, visitando hospitais e fornecedores.

Hoje, minhas funções são mais gerenciais, então ficou mais fácil administrar o tempo. Passo entre oito e nove horas na empresa. Divorciada, com uma filha de 8 anos, tenho que me virar para dar conta de tudo. Terceirizo muita coisa da Lara: tem van para a escola, funcionário que leva para natação, balé e inglês. Brinco que tenho dois empreendimentos: a empresa e a filha. Nos dois casos, preciso estabelecer processos e metas, criar uma cultura organizacional. Assim como os funcionários, a empregada e a babá precisam estar em sintonia com meus valores.

Fico com a Lara de manhã e à noite. Faço questão de jantar com ela, acompanhar as tarefas, ler um livro... Ela adora ir ao escritório, onde tem uma parede coberta pelos seus desenhos. Em compensação, quando estou em casa, reclama que eu fico pendurada no telefone. A Lara queria que eu estivesse mais presente na vida dela. Mas, quando você tem um negócio, é muito diferente do emprego. Você não desliga nunca.

EMPRESA:
Tecsaúde
Sede: Recife (PE)
Funcionários: 300
Faturamento em 2016:  R$ 23 milhões

Lilian Esteves, fundadora da house shine, e seu filho Lucas (Foto: Fabiano Accorsi / Editora Globo)

Lilian Esteves, 36 anos, mãe de Lucas, 14 anos

Durante seis anos, trabalhei em consultorias voltadas para o franchising. Mas sempre quis ter algo meu. Foi por meio de uma consultoria que conheci Antônio Cândido Mesquita, do grupo português NBrand, detentor da marca House Shine. Na época, não existia no Brasil nenhuma empresa especializada em limpeza residencial.

Eu morava sozinha com meu filho Lucas, então com 8 anos, e via como era difícil encontrar alguém de confiança para limpar a casa. Se eu precisava, então outras mães também deviam precisar. Em 2012, lancei a versão brasileira da House Shine. O timing foi perfeito. Um ano depois, a PEC das Domésticas foi aprovada e a franquia decolou.

A decisão de me tornar uma empreendedora mudou a rotina da família. Meu filho, que só estudava na parte da manhã, passou a fazer cursos de natação e inglês, e a passar mais tempo na casa da minha mãe. Muitas vezes, eu saía do trabalho tarde e, quando ia buscá-lo, ele já estava dormindo. Mas nunca me arrependi de nada.

Amo meu trabalho, ele me empolga. Adiantaria eu ficar me lamentando? Em vez disso, sempre procurei maneiras de aproveitar bem os momentos de folga. Agora que ele tem 14 anos, fazemos musculação juntos, e, quando dá, pegamos um cineminha. Sinto que o mais importante não é quanto tempo passamos no mesmo lugar, mas o que fazemos quando estamos juntos.

EMPRESA:
house shine
Sede: São Paulo (SP)
Funcionários: 2.000
Faturamento em 2016: R$ 27 milhões

Rosana Souza, fundadora da Universo Inox, e seus filhos Ana Clara e João Dario (Foto: Marcus Desimoni / Nitro Imagens)

Rosana Souza, 41 anos, mãe de Ana Clara, 4 anos, e de João Dario, 10

Meus pais trabalhavam na lavoura. Aos 10 anos, eu comecei a trabalhar como empregada doméstica. Depois, fui conseguindo empregos melhores, até ir trabalhar no departamento financeiro de uma fábrica de produtos de inox.

Em 2002, com R$ 30 mil guardados e um empréstimo de R$ 150 mil no banco, abri uma empresa de tanques de aço inox. Mais tarde, para me destacar da concorrência, comecei a fabricar peças feitas sob medida para hospitais, universidades, residências... Hoje, produzimos mais de 3 mil itens. Com a minha empresa, posso dar ao João Dario e à Ana Clara uma vida confortável. Eu não queria que eles passassem pelas dificuldades que eu passei. Aos 8 anos, andava a pé 24 quilômetros por dia para ir à escola. Nunca tive brinquedo. Roupa e sapato, só quando ganhava usado de alguém. Com o que meu pai ganhava, só dava para comprar arroz e feijão.

Quando os meus filhos nasceram, eu parei de trabalhar por dez dias. Depois, levava para a empresa, onde tinha a ajuda de uma babá. Eu trabalhava normalmente, mas parava a cada duas horas e meia para amamentar. Hoje, apesar de não ficar tanto tempo com eles, acredito que o que ofereço afetivamente e materialmente é excelente. Faço questão de levar e buscar na escola. Quando estou em casa, brincamos juntos, vemos TV juntos, vamos à igreja juntos. Fazemos até comida juntos: a Ana Clara adora misturar mostarda e mel para o molho da salada.

EMPRESA:
Universo Inox
Sede: Lagoa Santa (MG)
Funcionários: 30
Faturamento em 2016: R$ 3,6 milhões

A fundadora da Be Nutri, Jordana Saldanha, é a mãe de Crystal (Foto: Jordana Saldanha, 37 anos, mãe de Crystal, 1 ano)

Jordana Saldanha, 37 anos, mãe de Crystal, 1 ano

Minha filha Crystal tinha um mês quando ganhei o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. Fiz questão de levá-la na festa comigo. Foi um momento muito especial, já que ela também faz parte dessa história. A Crystal foi comigo para o trabalho quando tinha apenas 15 dias. Durante três meses, ela me fez companhia no escritório.

Para quem é mãe, essa é uma das maiores vantagens de empreender: você pode levar as crianças ao trabalho na hora que quiser. Depois de três meses, resolvi deixar na escolinha em tempo integral, junto com a irmã mais velha. A Jady nasceu no mesmo ano que decidi empreender, em 2010. Naquele ano, eu e meu marido, Antônio Eduardo Repezza, propusemos sociedade à minha mãe, que vendia salgados para bares e lanchonetes de Brasília (DF). Juntos, formalizamos a empresa, alugamos um espaço comercial e mudamos o foco, passando a investir em salgados integrais.

Com a mudança, multiplicamos o número de clientes. Em 2013, a empresa migrou para um galpão industrial e aumentamos a produção: hoje, vendemos para sete estados diferentes. Conciliar a maternidade com o negócio não foi fácil. Mas minha mãe e meu marido me ajudaram bastante. Acho que, para essa combinação dar certo, o principal é a organização. Você não precisa passar tantas horas na empresa, pode atuar remotamente.

Em geral, trabalho até as 17h30, enquanto as meninas estão na escola. Mas o meu horário varia muito. Então, quando preciso ficar na fábrica até mais tarde, as duas vêm para cá. A Jady adora brincar com a massa da coxinha.

EMPRESA:
Be Nutri
Sede: Brasília (DF)
Funcionários: 15
Faturamento em 2016: R$ 1,1 milhão

Wilsa Atella, da Ambidados, e a filha Sabrina (Foto: Marcelo Correa / Editora Globo)

Wilsa Atella, 40 anos, mãe de Sabrina, 15 anos

Eu trabalhava como gestora de projetos quando dois amigos, pesquisadores na área de oceanografia, me convidaram para ser sócia em uma empresa de monitoramento de correntes marítimas. Na época, eu morava em Cabo Frio e concordamos em trabalhar no sistema de home office.

Em outubro de 2007, ficamos sabendo que a empresa havia sido aceita para participar do programa de incubação da Coppe-UFRJ e eu precisaria voltar a morar no Rio. Mas faltavam dois meses para meus filhos completarem o ano letivo. Então a solução foi percorrer duas vezes ao dia os 160 quilômetros que separam Cabo Frio do Rio de Janeiro. Em 2008, veio o primeiro contrato grande, com a Petrobras. Depois disso, a correria só aumentou. Antes de empreender, eu era muito presente na vida das crianças. Mas , com o negócio, ficou complicado. A cada reunião da escola que eu perdia, ficava mal. Eles também sentiram a mudança.

Certa vez, quando uma empregada pediu demissão, meu filho se recusou a comer. Precisei pedir socorro à minha mãe, que ficou em casa um mês inteiro, até eu conseguir outra pessoa. Nas férias escolares, me acostumei a deixar meus filhos com a avó.

Agora, com eles maiores, tudo ficou mais fácil. O Bruno está com 18 anos e estuda Direito em Coimbra. A Sabrina ainda me dá bronca quando me pega trabalhando de madrugada. ‘Só vou dormir quando você for!’, diz. Mas existe uma união muito forte entre nós. Vejo que eles têm orgulho da mãe, e fico feliz por isso. Acho que consegui passar para eles o gene do empreendedorismo.

EMPRESA:
Ambidados
Sede: Rio de Janeiro (RJ)
Funcionários: 31
Faturamento em 2016: R$ 7 milhões

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