Penso que atualmente andamos um pouco de lado quando seguimos pelos caminhos imprevisíveis do futuro. Nossos passos parecem mais apressados, deixando um exagero de estresse pelo caminho. Empresas, famílias, escolas e outras instituições da sociedade parecem inaugurar um novo período da vida na terra, distante do Paleolítico e do Neolítico: estamos vivendo agora no “Ansiolítico”!
Nesses últimos anos, o que mais tenho ouvido de empresários, professores, famílias, administradores públicos e várias outras lideranças é que está muito difícil “trabalhar e lidar com pessoas”. Colaboradores que não se comprometem com o trabalho e que facilmente abandonam seus empregos. Alunos que pouco se interessam pelas aulas ou pelo estudo. Filhos que não obedecem aos pais, jovens muitas vezes indiferentes a qualquer coisa, que nem estudam nem trabalham, apenas seguem vivendo na quase tranquilidade do 'não ter o que fazer'.
Confesso que isso me deixa bastante inquieto. Nossa espécie tem milhares de anos na terra e durante todo esse período conseguimos construir coisas extraordinárias. A despeito dos problemas e conflitos, nossa evolução é incontestável. E nós só chegamos até aqui porque vivemos em sociedade, porque nos comunicamos. Então, fico me perguntando, por que insistimos tanto nessas reclamações?
Com certeza, a resposta não é tão simples. Porém, creio que o principal motivo de estarmos vivendo esse “ruído” de comunicação e relacionamento é que ainda não percebemos a mudança de paradigma que já se alastra em nossa sociedade há várias décadas.
A questão principal é que não podemos mais viver sob o domínio do pensamento da Era Industrial. A evolução humana já subiu mais um degrau e agora nos provoca a viver sob os estímulos da Era do Conhecimento. Não podemos mais criar relações positivas e construtivas com o velho desenho de “poder e comando” da Era Industrial”, momento em que as pessoas eram tratadas como “coisas”, juntamente com as máquinas, apenas mais um ativo da propriedade econômica do capital.
Se concordarmos que os seres humanos são integrados pelo conjunto corpo, mente, coração e espírito, independentemente da era em que vivemos, vamos nos aproximar do entendimento de que se continuarmos valorizando apenas o corpo (a força de trabalho) de nossos colaboradores, não vamos conseguir chegar a lugar nenhum, apenas continuar replicando os desentendimentos e as reclamações.
Nessa nova Era em que estamos vivendo, com um fluxo de informação contínua e aproximação planetária, as pessoas ganharam autonomia e agora têm mais possibilidades de fazer suas próprias escolhas. E é isso que parece estar acontecendo, mesmo considerando que muitas dessas pessoas que escolhem sair do trabalho, renegar o estudo ou até se rebelar com a família também não tenham consciência desse novo paradigma.
Mas, essas mudanças não devem nos assustar. Elas são historicamente lentas, pois trata-se de uma mudança cultural. Imagine o que foi para um caçador-coletor do Paleolítico se transformar em um agricultor do Neolítico? Com certeza foram décadas ou séculos para a transição dos paradigmas, até que a imensa maioria da sociedade se adaptasse aos novos rumos da sociedade. Mas e depois? A vida continua, a terra segue girando e chega a Era Industrial. Imagine como foi essa mudança para os agricultores, já há séculos acostumados aos processos do sistema agrícola, mas que tiveram que rumar para as cidades e assumirem seus postos nas linhas de produção das fábricas que se multiplicavam pelas cidades?
Pois é assim que segue a humanidade. A impermanência é a única constante da vida. E é por isso que eu acredito que o único caminho para enfrentarmos esses problemas é tentar entender esse novo paradigma e começar imediatamente a aplicar suas novas regras em nossa vida cotidiana, tanto no trabalho como na vida pessoal. No caso específico das empresas, sugiro que todos comecem a pensar que liderança não é chefia e por isso não pode mais ser conduzida sob regras de poder, comando e submissão.
Sugiro, também, que empresários, diretores, gerentes e coordenadores comecem a entender que liderança não é uma posição que se aceita ocupar, mas uma escolha que se conquista. Somente por meio de atitudes embasadas em uma sincera compreensão das quatro dimensões humanas (corpo, mente, coração e espírito) é que se torna possível motivar e conduzir pessoas.
Mas, para isso é preciso construir algumas estratégias. Aceitando que as pessoas hoje têm autonomia para suas próprias escolhas, seja de forma consciente ou inconsciente, podemos entender que dentro de uma empresa os colaboradores podem decidir o quanto de si mesmos irão dedicar ao trabalho, muito provavelmente de acordo como são tratados dentro desses espaços e das oportunidades de utilizar aquelas quatro partes de sua natureza, o corpo, a mente, o coração e o espírito.
Essa dedicação, segundo Stephan Covey, pode variar da “rebeldia e desistência” até a “empolgação criativa”, passando pela “obediência mal-intencionada”, “cumprimento voluntário”, “cooperação animada” e “dedicação profunda”.
Vamos pensar. Imagine uma empresa em que o tratamento recebido não é justo, não é nada motivador? Pense que o espaço físico não é muito limpo e que o calor é bastante acentuado. Além disso, a remuneração não é igual para todos e não reflete adequadamente a contribuição dada em troca. Qual seria a sua escolha? Imaginemos outra empresa em que a remuneração é justa, o ambiente é razoável, mas o tratamento dado às pessoas é arbitrário e descuidado, dependendo do humor do chefe. Qual seria agora a sua escolha? Como você se dedicaria a essas empresas?
A ideia central é que todas as empresas, sejam elas pequenas, médias ou grandes, comecem a pensar no paradigma da pessoa integral dentro de um trabalho integral, pois não há nada tão forte e poderoso como uma ideia cujo tempo está demonstrando. Seria como se as pessoas assim gritassem: use-me com criatividade (mente) – pague-me justamente (corpo) – trate-me bem (coração) – e tudo isso com foco no atendimento das necessidades humanas com princípios (espírito).
De forma geral, podemos traduzir esse paradigma da pessoa integral para os empresários da seguinte forma:
Como você trata seus funcionários? Conversa com eles, tem sempre um bom dia sorridente? Pergunta ou mostra interesse em saber como está sua vida pessoal? Você comemora as conquistas com seus colaboradores e valoriza as ações pessoais de cada um? (coração)
Como é a remuneração na sua empresa? Existem benefícios interessantes? Se as pessoas se dedicarem mais poderão receber mais? E as instalações de sua empresa, como estão? É calor exagerado? Os banheiros dos funcionários estão cheios de estoque? O espaço para alimentação é pequeno e difícil de utilizar? (corpo)
Você dá espaço para que os colaboradores tragam suas ideias? Você dá autonomia a eles? Você os desafia a trazerem a inovação para dentro da empresa? Eles podem ficar à vontade diante de sua chefia? (mente)
Sua empresa tem um propósito sólido? Ela traz benefícios para a comunidade com base nos valores e nos princípios humanos? (espírito)
Ao entender esse novo paradigma e agir dentro de suas diretrizes, automaticamente empresários, gerentes, coordenadores ou supervisores irão surgir como lideranças naturais dentro do grupo. Líderes capazes de conduzir as pessoas com respeito às individualidades, abertos às inovações e preocupados com o bem-estar de todos. Líderes que navegam com suas empresas focando no desenvolvimento das pessoas e de toda a sociedade e não apenas no aumento de capital. Líderes que se dispõem a inspirar pessoas e não as comandar com ordens e imposições.
Sugiro que comecemos a pensar com mais profundidade nessas questões e parar de colocar a culpa nos outros. Como dizia Homer Simpson, “se a culpa é minha, então eu ponho em quem eu quiser”. De nada vai adiantar ficar reclamando que os outros não fazem, que os outros não querem, pois sempre que alguém faz girar sua vida emocional em torno da fraqueza de outras pessoas, ele estará entregando sua liberdade emocional a essa pessoa e autorizando-a a continuar atrapalhando sua vida.
A ideia é menos vitimização e culpabilização e mais atitude. Muitas vezes, empresários não sofrem porque não podem resolver seus problemas, mas porque não conseguem enxergá-los. Vamos abrir os olhos e perceber as mudanças que já invadem nossa cultura e ninguém parece dar atenção.
Com certeza, quando no futuro os historiadores se debruçarem sobre esse nosso momento histórico, muito provavelmente eles não ficarão encantados com a internet, a inteligência artificial ou a tecnologia. O que eles descobrirão é que nossos dias vivenciaram uma das maiores mudanças na condição humana. Pela primeira vez na história da humanidade, um número substancial e crescente de pessoas passou a ter direito a escolhas, gerenciando a si mesmas e abrindo seus próprios caminhos.
E os historiadores vão perceber que nossa sociedade estava totalmente despreparada para isso. Mas, não vamos desanimar. Ainda dá tempo de mudar a história.
Maurício Buffa- Consultor de Negócios do Sebrae-SP Escritório Regional de Franca Foto: Imagem Freepik
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