O brasileiro sempre esteve entre os maiores consumidores de bebidas alcoólicas do mundo, mas o isolamento social, durante a pandemia da Covid-19, fez com que esse consumo aumentasse consideravelmente. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibrafig (Instituto Brasileiro do Fígado), 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, sendo que 17,2% delas declararam aumento do consumo, associado a quadros de ansiedade graves.
“O consumo de entorpecentes pode causar uma ‘fuga da realidade’, causando uma sensação de que seus problemas estão resolvidos, sendo que na verdade está gerando grandes prejuízos à saúde, uma vez que isso causa um efeito reverso e torna as crises ainda mais fortes. Mesmo que o consumo de drogas cause uma sensação de alívio momentâneo, essa gratificação imediata pode durar pouco e exigir doses mais fortes para fazer essa ilusão perdurar, levando a pessoa a dependência”, explica a médica psiquiatra da Unimed Franca, Michele Telles.
Pessoas mentalmente saudáveis entendem seus limites e compreendem os desafios da vida cotidiana e, segundo a médica, isso também está relacionado com a forma como reagem às exigências da vida estando bem consigo mesmo. “Essas pessoas conseguem beber socialmente, por exemplo, sem tratar isso como rotina ou fuga”, diz.
O álcool e a saúde mental
A psiquiatra lembra ainda que estudos científicos recentes mostram uma incidência de 13% entre a associação de doenças mentais com o uso abusivo de substâncias. “Existem questões sociais, psicológicas e a exteriorização neural que afeta a cognição, as emoções e a movimentação de quem faz uso de substâncias psicoativas. O álcool deprime o sistema nervoso central por aumentar as quantidades do neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA) e gera complicações como depressão, transtorno de ansiedade e alterações na memória”. O GABA é um neurotransmissor químico inibitório do sistema nervoso central, responsável por reduzir a atividade dos neurônios e outras regiões do cérebro. Por consequência, ele exerce a função de um calmante natural, controlando a ansiedade e diminuindo o estresse.
Quando procurar ajuda profissional?
Alteração do humor e sono, falhas de memória, esquecimento e cansaço, além do uso excessivo de álcool, são alguns dos sintomas que podem ser indicativos de que está na hora de procurar uma avaliação especializada. “Existem alguns indicativos que podem significar um possível transtorno mental. O corpo vai dando sinais de que algo está diferente e esses sinais podem estar relacionados com várias doenças mentais, como depressão e ansiedade, que já são as doenças mais comuns no Brasil. E não adianta tentar resolver isso com férias ou chás”, comenta a psiquiatra.
Familiares e amigos podem ajudar. Conversar sem julgamentos é o primeiro passo, mas também é importante demonstrar apoio e marcar uma consulta com um psiquiatra, se for necessário. O médico deve indicar tratamento adequado para cada caso, sendo a internação indicada apenas para pacientes que começam a perder o juízo e colocam sua própria vida em risco.
Janeiro Branco
O objetivo da campanha Janeiro Branco é chamar a atenção para as questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional dos indivíduos e das instituições humanas. O mês de janeiro foi escolhido porque é nele que as pessoas estão mais focadas em resoluções e metas para o ano.
"Para muitos, as festas de fim de ano podem ser emocionalmente difíceis, especialmente se não tiveram um ano muito bom, seja no âmbito pessoal ou profissional. São pessoas que perderam entes queridos, passaram por rompimentos, doenças, dificuldades econômicas ou, simplesmente, não realizaram seus sonhos e acabam relembrando experiências que queriam ter esquecido. Criam-se camadas de angústias e ansiedade que, quando não tratadas, podem levar a quadros mais graves de depressão. Por isso, essa campanha é tão importante”, finaliza a médica.
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