No processo de troca de bastão, os Leyre (foto) ampliam, em três anos, de 20 para 68 o número de lojas da Código Girls, confecção especializada em roupas para o público teen
Quem costuma tomar conta do dinheiro dos filhos, geralmente, são os pais. O empresário Leyre Pinto, dono da rede de franquias Código Girls, com 68 lojas especializadas em roupas para o público teen, é a exceção que confirma a regra.
Quando o filho, também Leyre, completou 19 anos, já era o responsável pelo departamento financeiro e administrativo da Código Girls. Esse foi o começo do processo de sucessão na rede de lojas. “Tomei uma decisão atípica: deixei o meu dinheiro para o meu filho tomar conta”, diz Leyre, que tem 50 anos.
O filho, que leva o mesmo nome do pai, tem 26 anos – a propósito, nessa altura, nem pai nem filho gosta muito de falar em sucessão. Ao que parece, na Código Girls é o contrário. “Eu gosto de delegar poderes. Meu filho, muito jovem, teve vontade e capacidade para assimilar as informações que eu transmitia no dia a dia”, afirma Leyre.
A idéia de tratar da precoce sucessão surgiu quando Leyre viu que precisava de “um braço direito” para dar um salto no seu negócio, que ensaiava uma expansão por meio de franquia – hoje das 68 lojas, 22 são próprias e 46 são franquias.
Leyre conta que chamou o filho para uma conversa e disse: “Não sou ambicioso. Com o que temos, vai dar para ter um bom apartamento, comer fora de vez em quando sem perguntar preços e viajar algumas vezes por ano para fora do país. Se você estiver contente com isso, em ter um apartamento de uns 100 metros quadrados e um carro, ficamos por aqui. Se não, entra firme e vamos expandir o negócio.”
Essa conversa aconteceu em 2011. Resultado: de 2012 a 2014, a rede Código Girls inaugurou entre 12 e 15 novas lojas por ano – todas em shoppings. Em 2015, mesmo com a crise, a empresa abriu sete lojas. Em três anos, quatro lojas fecharam, mas mais por falhas de gestão do que queda de vendas.
“Não quero esperar o meu pai morrer para ficar rico. Quero ficar rico com ele. Muitos herdeiros vivem de mesada. Eu quero trabalhar, ter meu dinheiro, meus imóveis. Não quero depender de herança”, diz Leyre Jr.
Leyre Jr. entrou para a empresa do pai como ouvinte, quando estava para completar 18 anos, assim que se formou no colégio. Na época, a rede tinha aproximadamente 20 lojas. Para mergulhar nos assuntos da Código Girls, o pai exigiu que o filho estudasse à noite, mesmo a contragosto da mãe.
Em toda a reunião que tinha com fornecedores ou representantes de shoppings, o pai levava o aprendiz, que ficava observando e escutando. O jovem só poderia dar palpites antes ou depois de uma reunião, nunca durante a conversa, para não atrapalhar a negociação. À noite, Leyre Jr. corria para a USP para cursar a faculdade de Propaganda e Marketing.
“Disse para ele que, o que eu tinha para dar, era muito melhor do que um diploma: uma lição de vida”, conta o pai. “Disse também que ele mexeria com muito dinheiro, o que era tentador, mas que só 5% do valor era de fato da família. Aquele dinheiro era para pagar fornecedores, empregados, impostos.”
Depois de um ano e meio como ouvinte, chegou a hora de Leyre Jr. colocar em prática tudo que aprendeu na teoria. Um dia, o pai não conseguiu chegar a tempo para uma reunião marcada com um fornecedor de tecidos, coube ao filho a negociação de preços. Foi um sucesso.
“Esse caso é de dar inveja às empresas familiares que lidam ou terão de lidar com sucessão. A conversa entre ambos foi clara e tiveram a humildade de procurar ajuda para não tocar mais o negócio na base do achismo”, afirma Adriano Gomes, sócio-diretor da Méthode, consultoria que está ajudando a Código Girls na gestão de processos e na sucessão.
LEGADO DE FAMÍLIA
Ao que parece, o filho tem os mesmos traços empreendedores do pai. No colégio, Leyre notava que os amigos, filhos de comerciantes, tinham um poder aquisitivo muito melhor que o de seu pai, que era bombeiro.
Aos 17, se lançou ao mundo do varejo. Começou a comprar e a vender roupas para os amigos e, em pouco tempo, já tinha dinheiro suficiente para adquirir duas motos.
A vontade de abrir uma loja era tanta que ele acabou vendendo as motos para investir em um comércio no bairro da Penha, em São Paulo. O ponto não foi uma boa escolha, mas a persistência o levou a montar uma loja em um salão de cabeleireiros em Guarulhos, cidade onde hoje está a sede da Código Girls. A partir daí, não houve regresso.
Enquanto tocava o negócio, decidiu estudar. O pai queria que ele fosse engenheiro, mas não quis concluir a faculdade. Mais tarde, cursou Direito e, para ajudar no seu negócio decidiu fazer MBA em Gestão de Marketing na ESPM.
“Acabei virando caso de estudo na ESPM. No primeiro dia de aula ouvi de um professor sobre Philip Kotler (considerado o papa do marketing), market share, segmentação de mercado. Anotei tudo e não tinha a menor idéia do que o professor estava falando”, diz.
Leyre percebeu que já colocava em prática o que ouvia na teoria dos professores, só que baseado nos erros e acertos que acumulava no dia a dia do seu negócio. “Muito do que os professores falavam em aula eu contestava e dava as razões.”
Inicialmente, Leyre trabalhava com a marca Sun, com foco na linha surf. Um pouco mais tarde, fez sua estreia em shoppings com a loja L.Lourenço, em Piracicaba – era exigência do empreendimento que o estabelecimento fosse especializado em moda masculina.
Ainda que estivesse no mercado de moda masculina, sua especialidade era, de fato, a moda surf. No fim da década de 1990, o estilo fazia a cabeça de adolescentes em todo o país.
Foi quando identificou um nicho de mercado: até a criação da Código, não havia nenhuma loja especializada em moda surf para o público feminino. Em 2000, fincou bandeira na moda feminina adicionando o termo "Girls" ao nome da marca, par vestir garotas de 12 a 18 anos.
O nicho, por sinal, é, até hoje, um mercado altamente promissor. Em 2010, esse público era formado por pelo menos 24 milhões de pessoas, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
De 2000 a 2004, dizem os Leyre, “nós nadamos de braçada”. A demanda reprimida enchia as lojas, qie viviam cheias de garotas.
Mais tarde outras marcas, como a Emme e a Planet Girls, ocuparam também o segmento. Hoje, mesmo com a crise, dizem eles, a rede vai bem – cresceu 10% no ano passado por conta do aumento do número de lojas. Neste ano, algumas lojas estão faturando mais do que no ano passado; outras, menos.
Os Leyre estão olhando agora com lupa o desempenho de cada uma das lojas (22 são próprias e 46 são franquias) para que, com ações, todas elas possam melhorar o faturamento ainda neste ano.
No processo de sucessão, Leyre Jr. passou a ser sócio da rede – três das 22 lojas da família já estão no nome dele. Ele passou, neste ano, a ter participação no lucro da empresa.
Quando perguntado se o filho já está pronto para comandar a empresa sozinho, ele diz. “Não. Acho que ainda vai levar uns cinco anos. Como ele mesmo admite, ele está pronto para operar as área financeira e administrativa, mas ainda tem deficiência na área comercial.”
Justamente a área que Leyre, o pai, conhece de sobra.
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