Na cobertura do impeachment, aparecem cacoetes ideológicos próprios dos países de origem. Jornais ingleses e americanos são menos passionais sobre o afastamento de Dilma
Não seria exagero constatar que, na mídia internacional, coexistem um Brasil verdadeiro e um Brasil artificialmente construído para o deleite dos preconceitos ideológicos dos leitores.
O impeachment da presidente Dilma Rousseff é exemplo disso.
Na França, o tom do noticiário é dado pelo Le Monde, simpatizante do Partido dos Trabalhadores. O Brasil passou a ser visto segundo a oposição direita contra a esquerda, que marcou a política francesa desde o final do século 18.
O problema é que essa forma de leitura não aceita o fato de o PT ter se aliado a partidos explicitamente conservadores (PP e PR, por exemplo), ou à paralela inexistência de homogeneidade da oposição, coabitada pelo PPS (ex-Partido Comunista Brasileiro) e pelo DEM, liberal de centro direita.
Sem atentar para tais sutilezas, o Monde formatou a tese de que a deposição de Dilma é uma operação em que a direita se aliou a amplos setores do conservadorismo que nasceram dentro da classe média. E que o bloco assim formado se opõe às políticas de inclusão social, que, em verdade, começaram com a Constituição (1988) e com o presidente José Sarney (1965-1989).
Nesta segunda-feira (18/04), apenas no sétimo parágrafo de longo editorial o jornal francês citou a Ficha Limpa e a corrupção naPetrobras.
Esse clima condescendente chegou ao Figaro, jornalão liberal. Ele afirma que Dilma “foi a grande vítima da globalização”, como se a recessão econômica fosse apenas o produto da queda dasimportações chinesas.
No sábado, em exemplo de non-sense constitucional, a TF-1, maior audiência na televisão francesa, disse que Dilma poderia renunciar para “provocar eleições antecipadas”, alternativa pela lei inviável.
O clima de unanimidade é quebrado, na França, pelo Courrier International, que ponderou corretamente sobre a corrupção no processo de rejeição ao PT, e, paradoxalmente, pelo Libération, jornal abertamente de esquerda que espinafrou o ex-presidente Lula quando ele foi levado em condução coercitiva para depor na Polícia Federal.
No Reino Unido é curiosa a evolução da The Economist, uma referência na mídia do grande empresariado. No ano passado, opunha-se ao impeachment, pela tensão e pelos efeitos traumáticos que a seu ver traria.
A revista agora se curvou ao fato consumado. Já discorre desde segunda-feira (18/04) sobre a herança pesada que Michel Temer encontrará e constata que o reequilíbrio fiscal não levará multidões às ruas para defender o novo governo.
Mas a Economist não abre mão do senso de humor. Publicou “60 razões para o impeachment” da presidente e, na listagem, traduziu para o inglês os votos dos deputados dedicados “à minha mãe, de 93 anos, que está me assistindo”, ou “às vítimas da BR-251”.
O The Guardian, em suas origens um jornal próximo da esquerda do Partido Trabalhista, diz em editorial que o impeachment foi o resultado da transformação do PT, que deixou de ser o defensor da moralidade pública para “resolver seus próprios problemas” com o dinheiro desviado da Petrobras.
Na Espanha, o El País preferiu a tonalidade irônica. A sessão de domingo da Câmara dos Deputados, em que a oposição obteve mais que dois terços dos votos para afastar Dilma, foi vista como “uma operação de catarse”, algo que na arte dramática significa lidar com fortes emoções e expiá-las por meio de encenações.
O New York Times tem procurado e obtido certa equidistância entre os favoráveis ou desfavoráveis ao impeachment. Mas descreve a impopularidade do PT de modo jornalisticamente criativo.
Em reportagem de sábado (16/04), narra o sentimento de oposição a Dilma entre trabalhadores brasilienses de pouca qualificação e menor renda.
Por fim, na América Latina é previsível que a mídia também se posicione em conformidade com suas posições sobre a política local.
Na Venezuela, por exemplo, o Tal Cual – oposição ao presidente Nicolas Maduro – noticia nesta terça (19/04) com naturalidade as movimentações de Michel Temer para montar um novo governo.
Em compensação, El Universal, próximo do chavismo, anuncia na mesma data, em primeira página, que Dilma se defenderá das acusações que lhe são feitas.
E, para terminar, dois exemplos argentinos. O Pagina 12, que elogiava Cristina Kirchner e agora faz oposição ao presidente liberalMaurício Macri, refere-se em primeira página ao deputado Eduardo Cunha como “o artífice do golpe suave contra Dilma Rousseff”. Ou seja, acredita na tese do “golpe”.
Mas El Clarín, que fez oposição a Cristina e hoje apoia moderadamente Macri, publica editorial muito equilibrado, em que a firma que Dilma é vítima da crise política, moral e econômica armada por ela e pelo PT, mas que entre os que a julgam existem também personagens moralmente complicados.
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