A utilização de meios eletrônicos de pagamento vem crescendo ano após ano e, em 2018, somente os gastos com cartões de crédito e débito devem ter superado a marca de 31% do consumo das famílias brasileiras – em 2008, a proporção não chegava a 18%.
Nos últimos anos, em particular, esse avanço vem sendo impulsionado pelo aumento da aceitação de cartões em pequenos negócios, que representam a imensa maioria das empresas do país. De acordo com pesquisa divulgada recentemente pelo Sebrae, saltou de 39% em 2016 para 46% em 2018 a parcela de micro e pequenas empresas que possuíam maquininha de cartão.
Entre as principais explicações para o avanço, podemos apontar a queda das taxas de desconto – paga pelos estabelecimentos comerciais sobre o valor de cada transação – e a possibilidade de comprar a maquininha de cartão – e, com isso, se livrar das despesas mensais com o aluguel.
Segundo a mesma pesquisa, a taxa mais barata foi motivo de 78% dos entrevistados para a escolha da maquininha – em 2016, o percentual era de 68%.
De fato, as taxas médias pagas pelos lojistas nas vendas com cartão vêm registrando queda, conforme apontam os últimos dados disponibilizados pelo Banco Central. No caso do crédito, ela passou de 2,73% em 2016 para 2,63% em 2017. No caso do débito, de 1,51% para 1,48%.
O recuo é reflexo da entrada de novas credenciadoras no mercado e do consequente aumento da competição. Segundo o Sebrae, 72% dos entrevistados em 2018 afirmaram comparar as taxas antes de decidir pela contratação dos serviços, contra 67% em 2016.
Os benefícios da entrada de novas empresas, porém, não se restringem à redução das taxas: surgiram também novos modelos de negócios – como a venda de maquininhas –, mais aderentes às necessidades dos micro e pequenos empresários.
Ainda de acordo com a pesquisa do Sebrae, passou de 40% em 2016 para 63% em 2018 o percentual de entrevistados que apontaram a compra da maquininha como motivo para escolha da credenciadora.
Não é à toa que a PagSeguro, pioneira no modelo de venda das maquininhas, lidera o mercado entre micro e pequenas empresas.
Enquanto as três maiores credenciadoras do país (Cielo, Rede e Getnet), ligadas a grandes bancos, ainda respondem por cerca de 80% de todos os valores transacionados com cartões no Brasil, no segmento de micro e pequenos empresas é a PagSeguro que lidera o mercado, com 35% de participação, à frente de Cielo (27%), Rede (19%) e GetNet (10%).
Quando são considerados apenas os Microempreendedores Individuais (MEI), a participação da PagSeguro é ainda maior, ultrapassando os 50%.
Em 2016, a Cielo ainda liderava no segmento, com presença em 51% dos pequenos negócios, seguida pela Rede (31%) e pela PagSeguro (16%). O avanço desta, assim como de outras entrantes, como a Stone, somado à queda das taxas de descontos, resultou no primeiro recuo nominal do lucro líquido da Cielo – a maior empresa do setor –, que passou de R$ 3,2 bilhões nos nove primeiros meses de 2017 para R$ 2,8 bilhões no mesmo período de 2018.
Apesar do acirramento da concorrência e da redução dos custos para os estabelecimentos comerciais, vale ressaltar que mais da metade (54%) dos pequenos negócios do país ainda não utiliza maquininha de cartão.
Entre estes, 80% dos entrevistados em 2018 disseram não aceitar cartão por preferirem outras formas de recebimento das vendas (dinheiro, cheque ou boleto bancário, por exemplo) – em 2016, eram 79%.
Mesmo entre os que aceitam cartão, “apenas” 30% das vendas são realizadas no crédito e 22%, no débito.
Os entrevistados, de maneira geral, ainda apontam os altos custos das vendas nos meios eletrônicos – em especial nos cartões de crédito – como obstáculo ao avanço da modalidade. Para 80%, o cartão de crédito é visto como o meio de pagamento com maior custo, seguido por boleto bancário (10%), cheque (6%), cartão de débito (3%) e dinheiro (1%).
Por outro lado, mesmo entre os 54% dos entrevistados que ainda não possuem maquininha de cartão há percepção de redução de custos. Entre 2016 e 2018, caiu de 56% para 41% o percentual dos que apontaram a alta taxa de desconto e de antecipação de recebíveis como motivo pelo qual não têm interesse pela maquininha.
Além disso, passou de 54% para 36% a proporção dos que apontaram o alto custo da mensalidade ou da compra a maquininha como motivo para não aceitação de cartão nas vendas.
Entre os que utilizam maquininha, por sua vez, é bastante significativa a parcela dos empresários para os quais a aceitação de cartões aumentou a segurança (66% em 2018, contra 57% em 2016), as vendas (58% em 2018, contra 57% em 2016) e a satisfação do cliente (73% em 2018, contra 71% em 2016).
Assim, a tendência é que os pagamentos eletrônicos continuem avançando no segmento de micro e pequenas empresas. Até porque, ante o acirramento da concorrência, é provável que continuemos a observar redução das taxas de desconto no caso das vendas no cartão de crédito.
No caso do débito, a limitação em 0,50% da taxa média de intercâmbio – parcela da taxa de desconto paga ao emissor do cartão utilizado na transação –, imposta pelo Banco Central, tende a reduzir as taxas pagas pelos estabelecimentos comerciais nas vendas na modalidade.
Além dos cartões, uma nova modalidade de pagamento eletrônico pode começar a ganhar força já em 2019: os pagamentos instantâneos (transferências monetárias eletrônicas nas quais a transmissão da mensagem de pagamento e a disponibilidade de fundos para o beneficiário final ocorre em tempo real e cujo serviço está disponível para os usuários finais durante 24 horas por dia, 7 dias por semana e em todos os dias no ano).
Na tentativa de enfrentar a ainda elevada utilização do dinheiro em espécie para pagamentos – que gera custos sociais relevantes associados a transporte, armazenagem e segurança, entre outros –, as altas tarifas para realização de transferências eletrônicas interbancárias de crédito, como a TED e o DOC, e os altos custos para aceitação de cartões de crédito e de débito, o Banco Central deve definir em breve as regras para a realização dos pagamentos instantâneos, o que tende a alavancar o uso de carteiras e contas digitais.
Boa notícia para o pequeno comércio, que deve continuar se beneficiando com a redução dos custos associados aos meios de pagamento.
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