Disputar uma concorrência equivale a entrar na arena de uma tourada, dependendo do estágio em que está a empresa ou do perfil do empreendedor.
Em especial para empresas novatas e gente com perfil mais introvertido, ter suas habilidades e vantagens comparadas com rivais no negócio ou se expor à avaliação de terceiros são situações aflitivas.
Essa é uma realidade cada vez mais presente entre os prestadores de serviços, especialmente nas áreas que envolvem conhecimento técnico ou criatividade.
Mesmo com toda a satisfação provocada pelo convite, nesses momentos, uma pessoa pode se tornar seu mais duro crítico, um estado mental que nos torna perdedores antes de começar o jogo.
Para enfrentar a ansiedade, os esforços costumam ser canalizados para a preparação da proposta. Mas não há apresentação brilhante que sobreviva a uma mente atormentada.
Como neutralizar as cobranças mentais e se tornar um concorrente seguro de si?
Para se sair bem, todas as etapas de uma concorrência – entrega do briefing, redação da proposta, precificação, montagem da apresentação e defesa – “exigem clareza mental e confiança nas próprias forças”, resume a coach Fernanda Barcelos.
Com formação em comunicação e teatro, Fernanda se especializou em ajudar profissionais da área criativa a construir uma cabeça de empreendedor.
A demanda por ajuda pontual para concorrências se tornou tão frequente que ela incorporou a preparação mental de seus clientes ao programa de coaching que desenvolveu.
REALIZAÇÃO
A clientela busca no consultório da coach sua habilidade em jogar luz sobre dons e habilidade existentes, mas travados por insegurança, timidez ou desorganização interna.
A maioria é composta por profissionais da área criativa em fase de montar um negócio ou querendo melhorar a performance como prestador de serviços.
Para a coach, um bom preparo é o que vai garantir a segurança e a confiança no momento da defesa da proposta diante de uma banca da empresa.
E um bom preparo significa olhar para dentro de si e aplicar uma série de diretrizes em todas as etapas da concorrência, da tomada do briefing à satisfação com a própria performance.
Há três palavras-chave no método de Fernanda: clareza, potência e presença.
CLAREZA E POTÊNCIA
A partir do recebimento do briefing, com as principais demandas do projeto, é preciso se perguntar se há realmente a clareza interna e a potência (ou capacidade) necessárias para aquele projeto.
Primeiro passo: avaliar se tem clareza sobre seus pontos fortes, aqueles que serão essenciais para fazer uma entrega eficiente, e sobre seus pontos fracos, para não deixá-los se sobreporem e paralisarem sua potência.
Algumas perguntas ajudam:
*Tenho capacidade de tocar este projeto só com minha empresa?
*Precisarei acionar profissionais e empresas com outras capacitações?
*Tenho esses talentos na minha rede de parceiros e contatos?
A clareza se reflete em confiança na própria potência. Saber identificar os seus pontos fortes ajudará na hora de vendê-los na apresentação. E ter ciência de seus pontos fracos indica o caminho de como compensá-los. Para isso, Fernanda sugere três perguntas:
*Como quero me apresentar?
*Como vou saber se estou fazendo uma boa apresentação?
Com os objetivos da apresentação em mente, fica mais fácil a identificação das ideias que fortalecerão a venda da proposta. Isso exige ser bem assertivo – tenha suas linhas mestras ao invés de colocar dezenas de pontos que só dispersarão a atenção.
Como se vê, um passo depende do outro. É aí que entra a importância do que se chama Estado de Presença. Para ter clareza e confiar na própria potência é preciso estar presente em tudo o que se faz. Como assim?
PRESENÇA
O conceito de "estado de presença" está na base da técnica de coach. Em inglês, a palavra coach é um acrônimo que representa as cinco habilidades que são desenvolvidas por esta técnica.
Conseguir assimilá-las é o objetivo de quem busca trazer para a superfície o melhor do seu potencial para se tornar um profissional e um empreendedor realizados.
De quebra, significa uma enorme utilidade em situações como uma concorrência. Veja o que significam e como se aplicam às situações de negócios:
C – Centro (Centered)
Estar centrado associa-se a um estado de firmeza e confiança, uma sensação integral de estar em paz consigo mesmo. É um estado que nos possibilita agir a partir da nossa potência.
O – Abertura (Open-minded attitude)
Uma mente aberta para as circunstâncias favorece a curiosidade e a compreensão. São características que nos ajudam a deixar de lado ideias preconcebidas para nos concentrar na fala do cliente e a obter informações que ajudem a compreender o que se passa na vida dele. Esta habilidade anda de mãos dados com a seguinte:
A – Consciência (Awareness) – Exige foco interno e externo. É a habilidade de sentir o ambiente e perceber o interlocutor com os cinco sentidos alertas. Tem ligação com estar centrado porque pressupõe consciência do que se quer, da forma de mostrar e de como chegar lá. É a consciência que nos ajuda a estabelecer a habilidade a seguir:
C – Conexão (Connection) – Sem esse estado, não há como fazer um bom trabalho com o cliente, pois torna possível compreender o outro e promover mudanças. São atitudes importantes tanto para a redação da proposta quanto sua apresentação. Neste momento, estamos não apenas nos apresentando, mas também conhecendo o interlocutor.
H – Suporte (Holding) – A última habilidade depende da boa condução das anteriores. De difícil definição, representa o espaço que somos capazes de criar para que o cliente se sinta confiante de nos ter por perto e atraído para as nossas capacidade de ajudá-lo a se desenvolver.
HORA DO ENSAIO
Cumprir as etapas propostas por Fernanda Barcelos abre caminho para o bom desempenho. O "estado de presença" é que nos mantêm firmes e nos ajuda a neutralizar a ansiedade. O passo final se chama ensaio, como sabem os atores.
Ensaiar é um grande recurso para alguém conferir se está sendo claro e se consegue demonstrar seus pontos fortes.
Não precisa ficar nervoso. Ensaio, como lembra a coach, pode ser um vídeo gravado no celular ou apenas a gravação para ouvir. Ajuda também a polir o gestual.
Outra possibilidade é se apresentar para uma pessoa que seja um interlocutor neutro. Importante: não tenha um excesso de crítica, mas preste atenção ao que é bom e pode melhorar.
Aproveite para antecipar as perguntas possíveis e tenha as respostas preparadas. E lembre-se: cada projeto é único. O seu também.
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