Cerveja Vale dos Monges é produzida exclusivamente para mosteiro da cidade mineira

Criada em 2019 pelo empresário Evernon Reigada (mais conhecido como Nino), a cervejaria Sacramalte nasceu com a ideia de trabalhar a cultura cervejeira. A proposta de difundir a história da bebida sempre se manteve acessa e foi rememorando o papel das cervejas nos mosteiros da Idade Média, que Nino cultivou o desejo de produzir uma cerveja monástica. No início de 2021, durante uma conversa informal na casa de familiares em Claraval-MG, aquela obstinação se tornou mais tangível: por que não produzir uma cerveja para os monges do Mosteiro Cisterciense de Claraval?

“A Igreja Católica sempre teve relação com a fabricação de cerveja, principalmente na Idade Média. A Igreja se apropriou da produção por questões de saúde, já que a bebida era vista como um alimento saudável, nutritivo e básico para todos. Assim, diversos mosteiros na Europa passaram a ter essa responsabilidade e os trapistas (ordem religiosa) trouxeram essa tradição para o Brasil”, explica o empresário.

Passadas as primeiras conversas sobre o projeto, foi marcada uma degustação e de dez cervejas trapistas (tipo de cerveja produzida sob a supervisão de monges) apresentadadas, os monges de Claraval aprovaram uma cerveja Belgian Blond Ale, produzida por uma abadia holandesa.

“Decidimos então reproduzir essa receita trapista, porém para ser considerada monástica, a cerveja precisa da supervisão dos monges. Assim, respeitando essa condição, os monges de Claraval começaram a acompanhar a nossa produção e para dar ainda mais credibilidade, a comercialização da cerveja é feita somente no mosteiro”, revela Nino.

Com primeira brasagem (etapa de fabricação) realizada em novembro do ano passado, a cerveja monástica Vale dos Monges virou realidade, ganhou rótulo e o envasamento de 150 litros em garrafas de cerveja de 600 ml.

“É algo novo para nós. Sempre tínhamos pedidos para que fizéssemos cerveja, mas não era levado à frente por falta de estrutura”, diz o padre Mateus Resende, monge cisterciense e responsável pela produção de licores no Mosteiro de Claraval, tradição que é mantida há mais de 40 anos no local.

Segundo o mestre cervejeiro da Sacramalte, Ivan Tozzi, a cerveja produzida para os monges é totalmente artesanal, tem sabor suave e coloração dourada clara, sendo sua espuma sutilmente cremosa. Com 6,2% de teor alcoólico, a cerveja leva rapadura produzida em Claraval e tem aroma frutado que remete a uma compota de pêssego ou damasco seco, além de notas de condimento, como o cravo.

“Essa cerveja tem um teor alcóolico um pouco acima das cervejas comuns, porém é uma bebida diferente, que tem um estilo, características sensoriais próprias”, destaca Tozzi.

No 4º lote de produção, a cerveja Vale dos Monges já tem mais de mil garrafas comercializadas e a expectativa é que em breve, a fabricação possa ocorrer dentro do próprio mosteiro, inclusive com a possibilidade de desenvolvimento de outras receitas.

“Está sendo satisfatório e muito enriquecedor associar a história da cerveja com o mosteiro. As pessoas têm aprovado e as vendas já ultrapassaram a dos licores”, comemora o monge de Claraval.

A Sacramalte

A cervejaria Sacramalte surgiu da produção de cervejas caseiras pelo empresário Evernon Reigada e o seu desejo de divulgar a história da bebida. Com nove estilos produzidos em 3 anos, a Sacramalte é uma cervejaria cigana (tem a própria receita e mestre cervejeiro, mas utiliza fábricas terceiras) e faz parte do Núcleo de Cervejeiros Artesanais do Programa Empreender da ACIF.