Um neologismo começou a circular nas rodas de empresários: uberização. O neologismo palavra está sendo usado para descrever um fenômeno que começou com o Uber e está avançando rapidamente aqui no Brasil.
O termo, na verdade, simplifica um conceito mais complexo, o da economia colaborativa –que apregoa que os recursos ou mão-de- obra que estão sendo subutilizados sejam empregados de uma nova forma.
E como o Uber se tornou uma das empresas mais bem-sucedidas nesse novo sistema, tornou-se uma inspiração para startups e novos negócios com um modelo similar.
A Docway trouxe esse formato para a medicina, a LoggiPresto fez o mesmo para o delivery de restaurante, e o Beauty Date para os serviços de beleza. Os exemplos são muitos e a cada dia surgem empresas baseadas na economia colaborativa.
THE FRESH
Uma delas é a The Fresh, startup carioca que começou a operar em maio passado. A ideia de montar o negócio surgiu depois que Brunno Galvão, fundador da empresa, tirou um período sabático no Estados Unidos.
Durante os quatro meses em que esteve no país, conheceu a Instacart –empresa que utiliza o tempo ocioso de algumas pessoas para que elas façam compras no supermercado para quem não tem horas livres para realizar essa tarefa.
Galvão já havia trabalhado anteriormente nesse setor. Durante dois anos, foi o responsável pelo e-commerce da SuperPrix –rede de mercados do Rio de Janeiro que possui mais de 12 lojas.
Ele conhecia bem as dificuldades de criar e manter uma operação tradicional de entregas nesse ramo.
“Há muitos problemas porque é a operação de delivery é cara e nem sempre é feita de forma eficiente. A entrega no mesmo dia é praticamente inviável”, diz Galvão. “Além disso, muitos mercados compartilham o estoque físico e o online o que acaba gerando a falta repentina de produtos.”
Ao analisar o negócio da Instacart, ele percebeu que, além de ser mais barata, essa forma de fazer entregas era também mais eficaz. E decidiu replicar o modelo no Brasil – país em que a logística encontra sérios empecilhos devido às dimensões geográficas e péssima qualidade das vias.
BRUNNO GALVÃO, FUNDADOR DO THE FRESH
COMO FUNCIONA
Assim surgiu a The Fresh. “O nome da empresa é uma brincadeira com a palavra em inglês fresco, já que os produtos saem direto do mercado para a casa do consumidor, e com a ideia de The Flash, porque entregamos em poucas horas.”, diz Galvão.
A plataforma funciona da seguinte maneira: o consumidor entra no site e escolhe o mercado de sua preferência. A The Fresh já tem cadastrada as redes Extra, Pão de Açúcar e Zona Sul. Após essa etapa, o cliente seleciona os produtos que deseja comprar.
Nesse momento, um shopper (profissional autônomo que realiza as compras) recebe o pedido e vai até supermercado para fazer as compras.
Ele pode consultar o consumidor sobre dúvidas ou apresentar promoções que encontrou nas gôndolas. No horário combinado, entrega é feita no local desejado. Tudo isso, em menos de duas horas.
A The Fresh fica com uma porcentagem sobre as vendas – o valor é negociado diretamente com cada supermercado.
É cobrado dos consumidores um frete que corresponde 10% do valor da compra, sendo que máximo é de R$25. Essa taxa é usada para pagar o shopper.
“Oferecemos um diferencial para os supermercados, mesmo para os que já tem um sistema de delivery, porque conseguimos fazer uma entrega mais rápida e eficiente”, afirma Galvão. “O incremento com o uso da The Fresh para as redes costuma ser de 10% a 15%.”
Assim como no Uber, os usuários avaliam o desempenho dos profissionais autônomos. Quanto melhor a nota recebida, mais os shoppers recebem novos pedidos e têm mais chances de ganhar bônus por desempenho.
A The Fresh atua por enquanto no Rio de Janeiro e estuda expandir para São Paulo. Até fim do ano, Galvão e seus sócios pretendem atingir R$ 500 mil em compras pela plataforma.
PERFIL DOS SHOPPERS
Por enquanto, um dos objetivos da The Fresh é aumentar a base de shoppers. Cada autônomo ganha por volta de R$ 2 mil, valor médio para seis entregas por dia.
De acordo com Galvão, existem dois perfis de shoppers. O primeiro são jovens universitários, maiores de 21 anos, que querem incrementar o orçamento mensal.
Eles entendem muito bem o conceito de economia colaborativa e sabem que os modelos de negócio estão mudando.
“A geração Y tem uma nova forma de se relacionar com o trabalho, o tempo e o lazer. Por isso, eles optam por essas formas alternativas de ganhar dinheiro”, diz.
Outro perfil é formado por adultos desempregados que querem uma fonte de renda. Muitos são ou foram motoristas do Uber.
“Alguns preferem trabalhar com a The Fresh porque não é preciso ficar rodando toda a cidade”, diz Galvão.
Outro benefício em relação ao aplicativo de carona, é que os shoppers não precisam necessariamente ter um carro. As entregas podem ser feitas de moto ou bicicleta.
“Queremos cadastrar 400 novos shoppers Procuramos pessoas que saibam planejar bem as compras”, diz Galvão.
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