Economista do IE-ACIF fala sobre o cenário em Franca, que possui mais de 57,9 mil empresas ativas

Atualmente a cidade de Franca, segundo dados do Instituto de Economia da ACIF/Receita Federal, tem 57.934 empresas ativas. O número é significativo e, sobretudo pelo olhar histórico, percebe-se uma informação relevante e abissal: no ano de 2023 foi aberta uma empresa a cada hora na cidade de Franca. Quais motivos explicam esse crescimento na abertura de empresas? O empreendedorismo se tornou a nova regra?

Ao analisar estes resultados alguns parâmetros preliminares são importantes para o entendimento dessas informações. Ao menos 50% das empresas ativas na cidade de Franca estão inscritas como Microempreendedores Individuais (MEI). Ao observar estes números, notamos um grande número de empresas de varejo de calçados e vestuário, além de prestadores de serviços como cabeleireiro, manicure, pedicure, promotores de vendas e trabalhadores da construção civil. Esses resultados podem ser explicados por uma grande quantidade de empreendedores que se lançaram no mercado seja vendendo sua força de trabalho (tecnicamente), seja através da venda de produtos, principalmente em marketplaces.

Um adendo é importante, antes de continuarmos tal análise. Segundo estudo publicado pelo Instituto de Economia ACIF, em 2023, existem 8.647 empresas atuando em marketplaces de média/baixa formalidade – como OLX e Mercado Livre, em Franca. Tal resultado representava, na época, 15,2% das empresas ativas na cidade. Isso gera uma hipótese sobre um caminho para esses microempreendedores. É importante ressaltar, porém, que estamos olhando de maneira “inocente” essa gama relacionada ao MEI. Existem outras perspectivas para serem analisadas, e uma delas é a “pejotização”.

Com foco no outro lado da moeda, temos as empresas que se constituem entre Microempresas, Pequeno Porte, Média e Grande e que representam 21.277 empresas (há informações que não foram classificadas nem como MEI e nem como demais portes pela Receita Federal). Essas empresas também atuam, em sua maioria, nas áreas de varejo de calçados e vestuário, contudo, temos uma grande fatia representada pelas fábricas e “fabriquetas” de calçados na cidade. Tais empresas também fazem parte de um ecossistema de vendas online, contudo, conseguiram lograr um crescimento em relação ao faturamento e número de funcionários.

Nesse contexto, as faces do empreendedorismo são multifacetadas e, sim, o empreender se tornou praticamente uma regra na sociedade. Alguns pontos apontam diferenças históricas: não temos mais as empresas dos anos 1980, com um empresário e uma multidão de funcionários; as empresas são compostas atualmente por apenas um empresário tocando praticamente todo o negócio sozinho, se desdobrando; empreender é para “todos”, especialmente pela facilidade de abrir um CNPJ.

Entretanto, essas facilidades e generalização escondem alguns obstáculos. Cada vez mais torna-se necessário se aprimorar, buscar ajuda técnica para saber de fato empreender: formar um preço, fazer seu fluxo de caixa, não misturar dinheiro da empresa com dinheiro pessoal, etc. O mundo do empreender mudou, mas trouxe consigo inúmeras responsabilidades. Empreender é regra e responsabilidade.

Adnan Jebailey, economista responsável pelo Instituto de Economia da ACIF              Imagem ilustrativa de garetsvisual no Freepik

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